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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Entrevista com Sergio Fraga da Cervejaria Fraga


Sergio Fraga trabalha há 22 anos na área de TI (Tecnologia da Informação, a antiga "informática") e hoje é Gerente de Projetos nesta área, porém sua história com cerveja é mais recente. Ele começou a brincar com as panelas no final de 2005 e no dia 04 de Dezembro de 2006 começou a história da Cervejaria Fraga, fazia um ano que Sergio estava produzindo cerveja em casa quando um dos seus antigos amigos e hoje atual sócio se animou com a cerveja que ele fazia e se ofereceu para montar junto com o Sergio a cervejaria, daí mexeu com quem estava quieto, a história tomou corpo quando depois se juntaram a eles outros dois sócios.
A Cervejaria esta instalada na Estrada dos Bandeirantes, no bairro de Vargem Pequena, zona oeste do município do Rio de Janeiro.A curiosidade e uma ótima jogada de marketing é o slogan da cervejaria: “Sua busca, Sua cerveja” ou seja, quando você procurar no Google Maps as coordenadas (Latitude 26º-59’-16”S e Longitude 43º-29’-8” W) que estão impressas no rótulo, copo ou na bolacha, ele vai te indicar o local exato de onde fica a cervejaria, ou seja você “faz a sua busca” e encontra “a sua cerveja”. Fiquei honrado em ter experimentado o excelente Weiss da cervejaria na Brasil Brau, abaixo um ótimo bate papo com o caro amigo, degustem-a sem moderação.
oBIERcevando - Você irão fazer chopp ou logo de cara irão também começar a engarrafar?

Sergio Fraga:
Estamos prontos para as duas coisas, vai depender da demanda.


oBIERcevando - Inicialmente irão produzir só a Weissbier?

Sergio Fraga:
Sim, a idéia era termos um produto só, pelo menos nos primeiros seis meses, para "sentirmos" o mercado e nos acostumarmos com a operação da cervejaria. Mas o retorno que tivemos na Brasil Brau deve nos levar a antecipar outro lançamento.


oBIERcevando
- Quando efetivamente teremos a comercialização da Fraga?


Sergio Fraga:
Provavelmente em setembro.


oBIERcevando - Inicialmente será comercializada apenas no Rio de Janeiro?

Sergio Fraga: Também fazia parte do plano original, mas na Brasil Brau muita gente de fora do Rio de Janeiro se mostrou interessada, então pode ser que logo estaremos em outros pontos.


oBIERcevando - Você será cervejeiro da Fraga ou terão assessoria de alguma outro profissional?

Sergio Fraga: Sim, pretendo fazer as receitas e tocar a produção, talvez chamemos o Paulo Schiavetto para fazer um startup: configurar o equipamento, otimizar alguma coisa no processo, mas só se houver necessidade.

Sergio tirando um chopp Weiss durante a Brasil Brau.



OBIERcevando - Qual estilo de cerveja a Fraga ainda irá lançar um dia?

Sergio Fraga:
Nada definido, mas eu e outro sócios somos muito fãs de Ale’s encorpadas, de brown para red na coloração. Vamos ver...


OBIERcevando - O que mais lhe seduz na cerveja, as características do malte, do lúpulo ou da levedura?

Sergio Fraga:
O que mais seduz é justamente a gama infinita de combinações entre estes elementos. Além disto, saber que depende quase que exclusivamente do cervejeiro fazer com que isto dê certo e se repita, o que não acontece com o vinho, por exemplo, por este ser muito dependente do terroir, ou seja, as variáveis ambientais que afetam a uva.


OBIERcevando - Como será sair das panelas para a Microcervejaria, um ponto fraco e um positivo.

Sergio Fraga: Se estiver falando em relação ao processo, eu acho que o ponto forte do equipamento da micro é te permitir um controle mais rigoroso dos parâmetros da produção. Por outro lado, acho que nas panelas de casa temos mais flexibilidade para ajeitar as coisas durante a produção, caso alguma coisa se desvie. Acho que em casa a produção também permite um improviso maior, no bom sentido da coisa. Se na hora "H" você resolver colocar um pouco mais de lúpulo, ou fazer uma brassagem em uma temperatura ligeiramente diferente, por exemplo, isto significa "artesanal" mesmo. Na micro você já tem a "responsabilidade" de manter um produto regular, sem diferenças significativas de um lote para outro.


OBIERcevando - Quais as principais burocracias que enfrentaram para viabilizar o projeto?

Sergio Fraga:
Tivemos muita dificuldade para achar o local ideal para instalação, que atendesse tanto às nossas necessidades (espaço suficiente, preço acessível, fácil escoamento da produção) quanto às exigências da legislação municipal, que aqui no Rio é bem rigorosa.
Depois que conseguimos, ainda enfrentamos uma série de trâmites para conseguirmos a licença de obra e instalação.


OBIERcevando - Qual conselho daria para o cervejeiro caseiro que sonha em ter sua cervejaria?

Sergio Fraga:
Planejar muito bem o empreendimento. Além disto, acho que a pessoa deve ter certeza de que deseja realmente isto, pois muitos acham divertido fazer cerveja em casa achando que o esquema da micro é igual. Na verdade, o empreendimento comercial traz muito mais responsabilidade e trabalho.


OBIERcevando - Existe um estilo ou escola cervejeira que mais lhe agrada, e por que?

Sergio Fraga: Quando comecei a apreciar cervejas de verdade, fique fascinado com a escola Belga, pela liberdade de criação e uso de ingredientes que ela representa. Com o tempo, passei a apreciar as cervejas de outras escolas e entender as diferenças entre elas. Acho que hoje eu passeio por todas, dependendo do contexto em que quero apreciar a cerveja.


OBIERcevando - Qual será a maior dificuldade que a Fraga terá para entrar no mercado?

Sergio Fraga: Espero que nenhuma! Bem, falando sério agora, certamente não deve ser fácil começar com um nome desconhecido. Neste ponto, o tempo de espera pela conclusão da fábrica funcionou para que fizéssemos uma boa divulgação do projeto. Hoje em dia, felizmente, já temos vários interessados em comercializar a nossa produção.


OBIERcevando - Para encerrar meu caro, a pergunta de praxe, qual cerveja você gostaria de estar tomando agora, sem ser uma Fraga Bier?

Sergio Fraga: Ommegang Three Philosophers!


Desde já desejamos todo sucesso a Cervejaria Fraga e que sirva de exemplos para outros cervejeiros caseiros, mais informações sobre a cervejaria é só entrar no site aqui.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn - Gräbenwasser

Ontem tive o prazer de conversar pessoalmente com duas figuras que hoje são conhecidas nacionalmente no cenário Homebrew, são eles: Ivan Guilherme Steinbach e o primo Diogo Zuge vencedores do II Concurso Mestre Cervejeiro da Eisenbahn, o estilo escolhido para este concurso foi o Robust Porter.

Estes dois cervejeiros caseiros de Joinville em Santa Catarina, resolveram se arriscar e trataram de fazer a Robust Porter para o concurso, as produções são feitas na casa da mãe do Diogo, a cervejaria deles já tem nome, é a Gräbenwasser ou então traduzindo “Água de Sargeta”, isso porque o pai do Ivan, em uma primeira produção não tão bem sucedida dos dois, tomou e não gostou, dizendo que parecia “água de sargeta” dai o “apelido” pegou. Mas o tempo passou e junto a experiência aumentou, devido a outras diversas produções, uma destas foi a Joinville Porter que chegará aos mercados em breve, assim como no concurso anterior virá no rótulo as assinaturas dos dois.

Outro detalhe é que a produção será embalada em garrafas de 375ml com rolha, assim como foi a Dama do Lago, do Botto que venceu ano retrasado.
Pois é, a cerveja mal começou o seu processo natural e já deixa uma polêmica, seria mesmo necessário colocar uma cerveja deste estilo em uma garrafa com rolha?
Tudo bem que é uma embalagem muito bonita, a inglesa Meantime disponibiliza sua Porter neste tipo de embalagem, mas aqui o resultado tende a ser, infelizmente, negativo, o preço será maior devido ao custo da embalagem e conseqüentemente menos pessoas degustarão essa excelente cerveja da Gräbenwasser, será que uma long neck com um belo rótulo, um rótulo diferente já não seria suficiente para demonstrar que é um produto diferenciado? Conseqüentemente o custo seria menos, deixando o preço mais enxuto. De qualquer forma é esperar para ver, o produto estará em breve pronto e deixa a todos ansiosos e sedentos pelo liquido, abaixo um rápida entrevista que fiz com eles na Eisenbahn depois do processo:

Ivan e Diogo depois da produção no bar da Eisenbahn.


oBIERcevando - É melhor produzir cerveja em casa ou em uma fábrica?


IvanO processo é o mesmo, óbvio que em proporções diferentes, apesar de parte do processo ser automatizado ainda há etapas que precisam ser acompanhadas de perto, com toda aquela atenção para que fique tudo certo.
DiogoSem dúvida o lado bom da coisa é depois não ter que limpar panela, dispensar todo aquele bagaço e nem ter que ficar ouvindo a esposa reclamando de toda a bagunça.

oBIERcevando - E como ficou esta batelada da Joinville Porter na Eisenbahn?

IvanO mosto ficou muito parecido com o que produzimos para o concurso, agora é esperar a fermentação e maturação, mas creio que vai ficar muito boa.

oBIERcevando – E quanto tempo levará para a cerveja ficar pronta e ser comercializada?

IvanConforme a nossa receita e o informado pelo pessoal da Eisenbahn em torno de 25 a 30 dias.

oBIERcevando - O que representou esta vitória para vocês?

IvanA conquista de um sonho, pois a Eisenbahn sempre foi referência para nós na produção de ótimas cervejas, além do mais fica aqui no estado, então realmente ficamos extremamente felizes.
Posso dizer que hoje foi muito importante ganhar este concurso, falta agora ganhar também o concurso nacional das Acervas.

DiogoNunca tínhamos produzido uma Robust Porter, produzimos exclusivamente para o concurso, foi uma única batelada, detalhe que não tínhamos muita referência sobre o estilo, foi na cara e na coragem mesmo, pesquisamos bastante e deu certo.


oBIERcevando - Qual estilo de cerveja vocês gostariam de ter produzido hoje aqui na Eisenbahn?

Ivan/DiogoCom certeza uma Imperial IPA ou então uma Russian Imperial Stout, são cervejas com presença e são estilos que apreciamos bastante.

oBIERcevando - Bate Bola:

Ivan
Malte: Carared
Aroma: Lúpulo
Escola: Inglesa
Copo: da Weinachts Ale
Cervejaria: Gräbenwasser
Lúpulo: East kent Goldings
Estilo: IPA

Diogo:
Malte: Carafa
Aroma: Lúpulo
Escola: Inglesa
Copo: da Fünf ou Cinco da Eisenbahn
Cervejaria: Gräbenwasser
Lúpulo: Cascade
Estilo: IPA

oBIERcevando - A pergunta de praxe, qual cerveja gostariam muito de estar degustando agora?

IvanA 120 Minute IPA da cervejaria americana Dogfish Head.
DiogoEu gostaria de degustar também a 90 Minute IPA da Dogfish.


Parabenizo aos vencedores por esta grande conquista, estamos ansiosos pelo lançamento do produto e que venham ainda mais concursos deste tipo para que mais pessoas possam ter esta sensação única de ter sua assinatura no rótulo de uma cerveja nacional.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Entrevista com Dudu Toledo da Nacional FT

O economista Luís Fabiani morou 3 anos nos Estados Unidos, conviveu com cervejeiros caseiros e acabou se apaixonando pelo assunto, estudou detalhadamente todo o processo para fabricação de cervejas caseiras.
De volta ao Brasil, começou a produzir cerveja em casa. Apresentou suas cervejas ao amigo que trabalha com computação gráfica Dudu Toledo que as degustava e sempre pedia mais. Resolveram em 2006 montar uma microcervejaria para colocar em prática as receitas caseiras de sucesso. Tiveram a sorte de conhecer Elvis, cervejeiro de primeira e já com experiência em produção.
Com um grande time já formado, ainda acolheram um químico, o bem humorado Deli Miranda que entende de limpeza como ninguém.
Pronto! Equipe cervejeira de primeira linha e que ainda conta com a gerente geral Fernanda Toledo para por ordem na casa.
Está é a MICROCERVEJARIA NACIONAL FT, que produz cervejas diferenciadas para um público "ainda" diferenciado, dentro do município de São Paulo é a única que produz cervejas comercialmente diferenciadas e com qualidade, poucos lugares comercializam os três estilos produzidos, estes foram escolhidos ao acaso, claro que se alguém tiver interesse em comercializar, eles podem produzir uma cerveja exclusiva para o estabelecimento, nada que uma boa conversa não resolva. Abaixo uma entrevista com o Dudu Toledo, que junto ao Luiz Fabiani e o Toni, estiveram em Santa Catarina e por pouco não participaram do evento destrutivo ao estado, mas a conversa aconteceu e degustem a sem moderação.


oBIERcevando - Quando vocês se reuniram e resolveram montar a Nacional FT?

Dudu Toledo
- Aprimoramos a idéia durante o 2ºsemestre de 2006. Abrimos o galpão em março de 2007.


oBIERcevando - Alías o qual o significado do nome Nacional FT?

DT
- Nacional por valorizar um produto artesanal brasileiro. FT são iniciais dos nossos sobrenomes: Fabiani e Toledo.


oBIERcevando - Em um mercado com tantas barreiras para a cerveja diferenciada e produções em menor quantidade, o que a Nacional FT veio mostrar?

DT - Procuramos criar receitas realmente diferentes, como a Van Eyck por exemplo, utilizando o levedo belga, ninguém faz uma cerveja assim aqui em São Paulo. Queremos começar a educar o paladar para cervejas diferentes, pois poucas pessoas conhecem.


oBIERcevando - O negócio de cervejas exclusivas para bares e restaurantes, veio do acaso ou fazia parte do plano de negócio?

DT
- Já fazia parte, foi o jeito que achamos de começar a fazer em pequena escala e divulgar nossas receitas para amigos e conhecidos.


oBIERcevando - Podemos dizer que é uma vantagem competitiva esta forma de negócio, cervejas exclusivas?

DT
- Creio que não, foi uma maneira de viabilizar o início de um negócio de produção em pequena escala.


oBIERcevando - As receitas (estilos) das cervejas, é a Nacional FT que oferece ou o estabelecimento que quer comercializar a cerveja já vem com a proposta?

DT
- É a Nacional que oferece e o estabelecimento ajuda a afinar a receita.


oBIERcevando - Qual estilo de cerveja a Nacional FT irá fazer ainda? Teremos alguma novidade?

DT
- Como somos muito pequenos, queremos testar inúmeras receitas de estilos diferentes.
Por enquanto, a idéia é comercializar apenas essas 3 receitas já existentes e testando novas internamente.


oBIERcevando - É previsto o aumento na capacidade de produção e um produto engarrafado? A longo ou médio prazo?

DT
- Engarrafado a longo prazo. Aumento de produção vai depender do rumo que vamos tomar.


oBIERcevando - O que é necessário em sua opinião para baixar o preço das cervejas produzidas em pequenas escalas?

DT
- O Problema é o custo elevado da matéria prima importada, e talvez se os bares diminuirem a margem.


oBIERcevando - Quais cervejas e locais comercializam os produtos da Nacional FT hoje?

DT
: São três estilos em quatro locais:
Drakes Ale – Drakes Bar e Pub;
Van Eyck Belgian Strong Ale – Bar Santa Madalena;
Lolita Pilsen – Pizzaria Ivitelloni e Clube Berlin.


oBIERcevando - Qual seria seu pedido se ao esfregar uma garrafa de cerveja e um "Gênio Cervejeiro" lhe concedesse um?

DT - Menos burocracia para conseguir os registros, leis e impostos diferenciados para incentivar e facilitar a vida do pequeno produtor.


oBIERcevando - E esta viagem a Santa Catarina, trouxe mais conhecimento cervejeiro?
DT - Muito. Principalmente nos modelos de equipamentos, tipo de piso, disposição, estrutura, metodologia de produção.


oBIERcevando - A pergunta de praxe, qual cerveja que realmente goste, além da Nacional FT, gostaria de estar tomando agora?

DT -
Putz, ontem tomei uma Delirium Christmas, uma edição especial de natal que uma amiga trouxe da Bélgica com 10% de alcool, maravilhosa!!!!!!

Mais informações: Microcervejaria Nacional FT

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Entrevista com Garrett Oliver


Como, relembrar é viver, resolvi trazer a tona novamente a entrevista feita com o Garrett Oliver pelo Roberto Fonseca (Latinhas do Bob) para o caderno Paladar do Estadão, lembro que na época que o Garret estava no Brasil de férias em Bombinhas (SC) a convite do pessoal da Eisenbahn, pude conversar um pouco com o nobre cervejeiro, na oportunidade ele pode demonstrar seus dotes culinários e além de deixar claro seu amor pelo que faz, Garrett para quem não sabe é o mestre-cervejeiro da microcervejaria nova-iorquina Brooklyn.
Nesta vinda, além de conhecer o litoral catarinense, participou da abertura da Sommerfest 2008, que reuniu produtores artesanais catarinenses. Oliver é um dos mais respeitados especialistas em harmonizar cerveja e comida, é autor do livro The Brewmaster's Table, ele concedeu esta entrevista ao Roberto, entretanto a idéia por ele transmitida em nossa conversa era exatamente esta, você fazendo o que gosta, da forma correta, com seriedade e muita pesquisa, há sucesso, degustem mais esta entrevista sem moderação.

Roberto Fonseca - Quais cervejas brasileiras você já provou? Qual sua impressão sobre elas?
Garrett Oliver - É difícil para mim lembrar dos nomes, mas já tomei algumas. Estive em Blumenau em 2005 e fui a uma festa de cerveja. Algumas produções são bastante boas e fiéis aos estilos originais. No caso das microcervejarias, não consigo ver a razão de produzirem cervejas sem sabor como as feitas por produtores maiores.

R.F - Qual você considerou a melhor?
G.O - As cervejas da Eisenbahn são as melhores que eu provei, especialmente as weissbiers e a dunkel. A dunkel, para falar a verdade, é melhor do que muitas do estilo produzidas na Alemanha.

O cervejeiro aproveitando a festa Blumenauense.


R.F - Qual a imagem da cerveja brasileira nos Estados Unidos? Ainda somos conhecidos como o país da "lager fraquinha e amarelada"? Ou produções locais já são conhecidas por meio de sites de avaliação e exportadores?

G.O - Muitos americanos nunca provaram nenhuma cerveja brasileira, logo eles não têm uma imagem do que seja a cerveja brasileira. A Brahma começou a tentar (se tornar conhecida nos EUA), mas tiveram pouco impacto até agora. A Corona, do México, já ocupa a categoria de "lager tropical fraquinha", por isso será um páreo duro para eles.


R.F
- Qual foi a chave para as microcervejarias se multiplicarem nos Estados Unidos, mesmo competindo com fabricantes maiores e marcas importadas? Vocês têm de lidar com competição de preços de cervejas vindas de outros países? Ou trata-se de uma faixa diferente do mercado?

G.O
- Nós realmente fizemos parte de uma revolução culinária, junto com o queijo, o vinho e muitos outros tipos de comida. Quando os americanos começaram a comer melhor, eles também quiseram beber melhor. Além disso, as microcervejarias americanas são muito criativas. Isso quer dizer que nós tivemos uma oportunidade de apresentar novos sabores e realmente fazer com que as pessoas se interessassem por cerveja. No entanto, nós competimos sim com cervejas estrangeiras baratas, como a Stella Artois, para a qual conseguiram criar uma imagem "chique" na América. Os belgas acham isso muito divertido.


R.F
- Como a "educação cervejeira" do consumidor se desenvolveu nos Estados Unidos?

G.O
- Os livros de escritores como Michael Jackson (jornalista britânico, falecido em 2007) foram muito influentes. Além disso, o movimento de cervejeiros caseiros funcionou como uma espécie de incubadora para a cena cervejeira americana. Grandes chefs cozinham em casa primeiro. Nos Estados Unidos, é o mesmo com cervejeiros.

R.F - No Brasil, produtores de cervejas artesanais ainda têm de lidar com "preconceitos cervejeiros", como "a cerveja deve ser servida estupidamente gelada" ou "cervejas escuras devem ser doces e agradam mulheres". O mesmo ocorre com vocês?
G.O - Sim, o mesmo ocorre nos EUA com a questão da cerveja gelada. Agora, sobre a cerveja escura, é verdade? Eu nunca tinha ouvido essa! As mulheres não gostam de experimentar cervejas escuras lá. Temos de convencê-las a provar.

Garrett e eu brindando as boas cervejas no evento.


R.F - Qual o impacto de mostrar às pessoas como harmonizar boas cervejas com boa comida? Isso ajudou a disseminar conhecimento sobre cervejas de qualidade?

G.O - Parece ter tido um grande impacto. Muitos produtores agora usam a harmonização como uma grande ferramenta para promover suas cervejas. Também funciona como "elo" entre a cerveja e a vida das pessoas, mostrando a elas quão maravilhosa pode ser a bebida em um jantar em casa. Isso faz a cerveja passar de um divertimento para um item de luxo que não é caro. A maioria das pessoas pode comprá-las todo dia. Atualmente, muitas pessoas conhecem cerveja de qualidade e buscam por elas.

R.F - No vídeo Cheese Wars (www.youtube.com/watch?v=6Zwi__PCal0), você "duela" com uma enóloga durante uma degustação de cervejas, vinhos e queijos. Como você analisa a reação das pessoas quando elas descobrem aromas e sabores da cerveja?
G.O - Elas ficam bastante chocadas. Geralmente o público é composto de fãs de vinho, logo eles não esperam optar pela cerveja. Mas ela é tão claramente superior que eles têm de ser honestos e deixam a degustação como fãs de cerveja, que é meu principal objetivo. Eu adoro vinho também, mas a cerveja é bem mais versátil com comida, em especial com queijos.

R.F - Quão importante é para uma microcervejaria produzir uma grande variedade de estilos?
G.O - A criatividade é o maior pré-requisito para o sucesso da cultura cervejeira. Não importa onde você procure no mundo, a cerveja sempre é mais bem-sucedida onde há uma boa mistura de estilos tradicionais e novos. Eu adoraria ver produtores brasileiros começarem a fazer cervejas especificamente produzidas para combinar com comida brasileira, talvez com ingredientes nacionais únicos. O mestre-cervejeiro hoje é como um chef, ele pode buscar influências em todo lugar. A tradição é muito boa - nós fazemos muitas cervejas tradicionais -, mas se você quer realmente chegar à imaginação das pessoas, você precisa ser criativo. E é bem mais divertido dessa maneira!

R.F - Qual o segredo do sucesso para uma microcervejaria como a Brooklyn? Se você estivesse para abrir uma microcervejaria no Brasil, qual seria seu plano?
G.O - Creio que, obviamente, as cervejas teriam de ser sensacionais, mas o mestre cervejeiro precisa estar à frente do negócio ajudando a difundir a cultura, exatamente como os chefs fazem. Eles precisam trabalhar com chefs top de linha e harmonizar a cerveja com boa comida brasileira, e também com pratos de influência européia. A Brahma e outras cervejas industriais já se apossaram da "imagem de praia", e uma pequena cervejaria não vai quebrar essa associação. O microcervejeiro precisa se nivelar por cima. De lá, você pode tornar a cerveja mais acessível para todos.

R.F - O aumento nos preços do malte pode brecar o crescimento do movimento de microcervejarias no mundo?

G.O - Certamente será um desafio, especialmente em países com menos reservas. Torcemos para que as pessoas não se afetem tanto com o preço, porque certamente teremos de elevar nossos valores.

R.F - Há alguma coisa a mais que você gostaria de dizer?
G.O - Gostaria que as pessoas percebessem que nós (os norte-americanos) somos o povo que menos teria tendência a desenvolver uma grande cultura cervejeira. As pessoas pensavam que a cerveja deveria ter gosto de água com gás. Em 20 anos, passamos de 40 microcervejarias a mais de 1500. O mercado de cerveja artesanal nos EUA cresceu 11% no ano passado, e tem crescido todo ano desde a década passada. Cerveja de verdade, como comida de verdade, é tanto o passado quanto o futuro. As pessoas estão abrindo os olhos para coisas melhores e uma vez que as provam, não querem mais aceitar produtos industriais.


Mais informações:
Site do Garrett Oliver
Site da Cervejaria Brooklyn

domingo, 7 de setembro de 2008

ACASC - Assoc. das Cervejarias Artesanais de Santa Catarina

Todos os chopes presentes também no evento festivo de oficialização da ACASC e apresentação da diretoria.
Já havia algum tempo que estava sendo sondada a constituição de uma associação de Cervejarias Artesanais em Santa Catarina, pois o estado é berço de renomadas cervejarias do cenário brasileiro. Afim de estruturar mais as reivindicações e necessidades era necessário organizar-se e por isto foi criada a ACASC. A associação realizou ato constitutivo na quarta-feira, dia 30 de Julho de 2008, no Restaurante Park Blumenau. Além da constituição da entidade foram aprovados estatutos sociais, definição da diretoria e Conselho Fiscal. No dia 13 de Agosto aconteceu o ato “festivo” para apresentação da primeira diretoria da ACASC - Associação das Cervejarias Artesanais de Santa Catarina, instituição civil de âmbito estadual sem fins lucrativos.

O presidente provisório da Acasc, Edgar Freitas não pertence a nenhuma cervejaria, foi unânime neste primeiro momento eleger um presidente "neutro", ele adiantou que a entidade foi formada para atender interesses da classe junto a órgãos públicos e promover intercâmbio de informações para aprimorar as tecnologias do processo de fabricação das cervejas. A Acasc terá sede em Blumenau, em Santa Catarina, no estado existem cerca de 16 cervejarias artesanais e desse total sete já se associaram. Abaixo um entevista com o Senhor Edgar de Freitas, presidente da entidade:
oBIERcevando - Qual serão os principais trabalhos da entidade?

Edgar de Freitas - Abaixo coloco nossos pricipais objetivos:

I – Buscar a integração das micro cervejarias, fortalecendo a representatividade com sustentabilidade.
II - Congregar profissionais especialistas em tecnologia de cerveja e portadores de diplomas de instituições nacionais e internacionais reconhecidas, assim como aqueles que comprovem através de certificado ou outro documento ter participado de cursos e treinamentos efetivos que os habilitem como tal.
III - Promover atividades sócio-culturais e atividades técnico-científicas, visando a integração dos associados, e com objetivo principal de melhoria da capacitação profissional e maior aptidão frente a evolução tecnológica do setor, mediante a realização de reuniões de estudos e debates, cursos, seminários, encontros e congressos.
IV - Preservar, consolidar e expandir as atividades dos profissionais cervejeiros junto às companhias cervejeiras e demais empresas do ramo, promovendo intercâmbio cultural e tecnológico entre os próprios filiados e com associações e entidades congêneres, estaduais e nacionais.
V – Participar de todos os eventos que proporcionem a divulgação das cervejarias artesanais e do turismo no estado de SC.


oBIERcevando - Qualquer cervejaria de Santa Catarina pode se associar? E quais seriam os procedimentos?

EF - Sim, desde que sua produção não ultrapasse 200.000 litros/mês. Quanto aos procedimentos, deverá a cervejaria interessada apresentar seu cadastro e desde que seu perfil esteja de acordo com o estatuto, poderá fazer parte do quadro de associados.

oBIERcevando - A entidade entrará com ações a nível governamental, como incentivos e debate sobre os altos impostos pagos pelas microcervejarias?
EF - Com certeza, as ações a nível governamental fazem parte dos principais objetivos da associação.
A atual diretoria da entidade.

oBIERcevando - A atual e nova diretoria como ficou e ficará durante quanto tempo a frente da Associação?

EF - Pelo estatuto a diretoria eleita tem direito a quatro anos comandando a associação e ficou da seguinte forma:
Presidente - Sr. Edgard Louro de Freitas
Vice-Presidente – Brunhard Bork (Cervejaria Bork)
Secretário – Georg Sigmar Nuber (Cervejaria Heimat)
Tesoureiro – Emerson Bernardes (Cervejaria Das Bier)
Diretor de Comunicação – Mauricio Zipf (Cervejaria Schornstein)
Conselheiro Fiscal – José Carlos Zen (Cervejaria Zehn Bier)
Conselheiro Fiscal – Mauro Perosa (Cervejaria Wünderbier)
Conselheiro Fiscal – Fernão Sérgio de Oliveira (Cervejaria Opa Bier)
Conselheiro Fiscal – Noelita Boschiroli (Cervejaria Heimat)


oBIERcevando - Como será o trabalho para divulgar a associação e trazer as cervejarias do Estado para participar? (Pergunta feita para Mauricio Zipf, Diretor de Comunicação da entidade)

MZ - Utilizaremos os meios eletrônicos disponíveis e todo nosso networking para estabelecer contatos que possibilitem a participação das demais cervejarias artesanais do estado na ACASC.
Nesta fase inicial nossa meta é identificar e convidar as cervejarias do estado para o fortalecimento da Associação. Um segundo estágio é a divulgação da ACASC em âmbito nacional para daí sim começar a obter benefícios diversos à seus associados



oBIERcevando - Na sua opinião é possível melhorar a situação para as microcervejarias do estado?
Edgar de Freitas - Sim, é possível melhorar a situação das microcervejarias do Estado, através de um trabalho efetivo de marketing, atuação juntos aos órgãos governamentais, visando a busca de um regime tributário específico para o setor de microcervejarias.

Representantes das cervejarias participantes, da esquerda para direita: Mauro Perosa da Wünderbier, Mauricio Zipf da Schornstein, Fernão da Opabier, José Carlos Zen da Zehn Bier, Emerson Bernardes da Das Bier, Brunhard Bork da Cervejaria Bork e Georg Nuber da Heimat.


oBIERcevando - Quais microcervejarias estão associadas a entidade até o momento?

EF - Abaixo relação das cervejarias que hoje fazem parte da associação:

CERVEJARIA - SCHORNSTEIN
LOCAL – POMERODE, RUA HERMANN WEEGE Nº 60

CERVEJARIA - BORCK
LOCAL – TIMBÓ, RUA POMERANOS Nº 1963

CERVEJARIA - HEIMAT
LOCAL – INDAIAL RUA MARECHAL DEODORO D FONSECA, Nº 1500

CERVEJARIA – DAS BIER
LOCAL – GASPAR, RUA BONIFÁCIO HAENDCHEN, Nº 5311

CERVEJARIA – ZEHN BIER
LOCAL – BRUSQUE, RUA BENJAMIN CONSTANT Nº 26

CERVEJARIA - WUNDERBIER
LOCAL – BLUMENAU, RUA FRITZ SPERMAN, Nº 155

CERVEJARIA – OPA BIER
LOCAL – JOINVILLE, RUA DONA FRANCISCA, Nº 11.560


oBIERcevando - Aonde será a sede da associação?

EF
- Provisoriamente a sede será em Blumenau.

Acerva Catarinense marcando presença no evento em Blumenau.

oBIERcevando - E os Homebrews de Santa Catarina também podem se associar a instituição?

EF - Infelizmente ainda não se enquadram no estatuto da Associação.


oBIERcevando - E o consumidor, o cliente das cervejarias, o que ele pode fazer para ajudar ainda mais as microcervejarias do Estado.
EF - A partir do momento que a associação estiver cumprindo com seus objetivos, espera-se que o consumidor atue como um multiplicador.


Mais informações:
ACASC - Associação das Cervejarias Artesanais de Santa Catarina
Rua Trombudo Central Nº 260 - Sala M31
Bairro da Velha - Blumenau - SC
Fones: (47) 3328-2575 e (47) 9905-2575.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Entrevista com Marco Falcone

Até bem pouco tempo atrás Belo Horizonte não tinha uma exposição devido as suas cervejas mas sim as suas cachaças, produzidas de forma artesanal e com muita qualidade, conquistando apreciadores em todo o mundo.
Porém o cenário mineiro hoje é diferente, possui um número considerado de micro cervejarias, e conseqüentemente um número considerado de Homebrews, no entanto que a Acerva Mineira fomenta de forma excepcional o mercado de cervejas especiais e da cultura cervejeira Brasileira, não é a toa que o III Concurso Nacional de Cervejeiros Caseiros ocorrerá em BH.

Em Ribeirão das Neves, a família Falcone fazia cerveja caseira para consumo próprio, no sítio onde hoje está a fábrica. Em dezembro de 1988, são fabricadas as primeiras 260 garrafas - 2 kits de cerveja caseira, no sítio da família, sob sociedade da Mãe Hilma Falcone (que financiou o equipamento e a matéria prima) e Marco Antonio Falcone (que aprendeu a fabricar). A marca inicial era Cirvizia Aquila, o consumo era exclusivamente na família.

A idéia de comercializar a bebida foi amadurecendo lentamente e A partir de junho de 2003, a família decide concluir estudos para implantação de uma Micro Cervejaria com fins comerciais, junto ao sítio da Família e após visitas a vários fabricantes de equipamentos, e em novembro de 2003 é fechado contrato de fornecimento dos equipamentos.
A fábrica foi instalada em uma área campestre, a 35 Km do centro de Belo Horizonte, em ambiente arborizado, totalmente isento de poluição e no dia 28 de junho de 2004, acontece a primeira incursão do Chope Falke Bier no mercado, e desde então ficou claro o comprometimento da família em divulgar a cultura cervejeira no Brasil, produzindo produtos com alta qualidade, lançando a primeira cerveja estilo tripel do Brasil, e mais recentemente uma Índia Pale Ale, deixa claro o compromisso em tratar a cerveja com seriedade, o entrevistado é Marco Falcone, um tremendo incentivador do mercado das Micro cervejarias e entusiasta dos cervejeiros caseiros em Minas Gerais e do Brasil, abaixo a entrevista confirmando todo este compromisso, degustem sem moderação.


O logotipo e rótulo da primeira cerveja produzia pela familia.
oBIERcevando - O que é cerveja para Marco Falcone?

Marco Falcone - Cerveja é algo que transcende a bebida. É um composto que envolve história, cultura, técnica, criatividade, gastronomia, convivialidade, alegria e prazer.

oBIERcevando - Então sua mãe, Dona Hilma Falcone, foi a primeira a investir em cerveja na familia, como saiu a “Cirvizia Áquila” .
MF - Quando fiz meu primeiro curso de cerveja caseira e levei para casa a amostra da cerveja, o entusiasmo foi tanto que Dona Hilma pediu a construção de uma segunda cozinha no sítio, totalmente adaptada, com bancadas, tomadas, fogão, exclusivamente dedicada à fabricação de nossa Cirvizia Áquila. Meu pai, Julio Falcone prontamente construiu. Foi realmente um grande incentivo.


oBIERcevando - Como é trabalhar em família, de quem veio a idéia de montar a Falke Bier?

MF
- Trabalhar em família é uma experiência incrível, quando se sabe distinguir o profissionalismo do parentesco. Quando todos entendem a missão da empresa e sua contribuição para o sucesso do empreendimento, funciona como qualquer empresa onde é bom de se trabalhar. Outro detalhe importante: as pequenas cervejarias de tradição na Europa trazem várias gerações na fabricação e comercialização, conceito que corresponde ao artesanal. Hoje na Falke, temos 3 gerações envolvidas, já que o Tiago, meu filho de 20 anos está trabalhando na empresa e envolvido na produção.
A idéia de montar a Falke Bier nasceu de minhas viagens à Europa, mas foi logo adotada com paixão pelo Ronaldo e pela Juliana, e aí, juntos, consolidamos o processo. Nossos pais também se integraram totalmente ao projeto, formando assim um time dedicado e focado na busca pela perfeição do negócio.
oBIERcevando - A Monasterium, como foi idealizada e quanto tempo demorou para chegar ao ponto de hoje?

MF - A Falke Bier já fabricava 3 chopes da família Lager, o Pilsen, o Red Baron e o Ouro Preto, porém a vocação destes chopes é de abastecer apenas o mercado local. Não são pasteurizados e nem tem conservantes, portanto não resistem a longos períodos sem refrigeração. Faltava então um produto que pudesse romper as fronteiras, não só de Minas, mas do Brasil.
Em junho de 2006 fizemos um curso de degustação com o Mestre-Cervejeiro Paulo Schiaveto e aí nasceu uma grande amizade. Manifestamos a ele nossa vontade de formular uma Belgian Strong Ale e juntamos nossos esforços para fabricar uma Tripel. Nasce aí a Monasterium, que por ser refermentada na garrafa, não oxida. Por ter alto teor alcoólico, inibe atividades microbiológicas. Portanto, alta durabilidade, podendo ser enviada para qualquer parte do mundo.

oBIERcevando - As micros tem que uma ajudar a outra na educação do consumidor, porém a concorrência é necessária, e no mercado cervejeiro, qual é o ponto de ela ser sadia?

MF - A única forma do movimento das cervejas especiais no Brasil ser vencedor é através da aculturação do consumidor. Portanto a educação é ponto fundamental, o início de tudo. Todos que se iniciaram neste conhecimento sabem que é um caminho sem volta. Nós da Falke Bier temos lutado intensamente, promovido cursos e palestras, patrocinado degustações, harmonizações, recebido alunos de diversas universidades em nossa fábrica. São ações que estão multiplicando exponencialmente o número de apreciadores da boa cerveja.
Quanto a concorrência, o que ocorre é o seguinte: os fabricantes que produzem com qualidade não tem limites de mercado e nem temores, pelo contrário, só confiança. Já aqueles que procuram visar apenas preço, fabricando produtos similares aos industriais, estes sim devem temer a concorrência, pois estarão concorrendo com as grandes indústrias e serão selecionados naturalmente pelos novos conhecedores que estamos formando.

oBIERcevando - Qual estilo de cerveja a Falke ainda terá?

MF - Temos uma série de projetos. Como todos estes projetos são de longo prazo, envolvem muitos fatores como formulação, testes, durabilidade, garrafas, rótulos, estudo de mercado, imagino que teremos 1 lançamento a cada 2 anos. Temos em estágio mais avançado, planos para uma Vintage Ale.
Os quatro produtos da Falke Bier, os chopes Ouro Preto, Red Baron, Pilsen e a Falke tripel Monasterium.

oBIERcevando - Podemos dizer que hoje Belo Horizonte já possui uma rota cervejeira, dado o número de micro cervejarias na região?

MF - Não só uma rota, como também um setor. O setor das cervejas artesanais. Há 3 anos inciamos um processo de associativismo. Existe um Sindicato, o SINDBEBIDAS/FIEMG (Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais/Federação das Indústrias de Minas Gerais) que há mais de 20 anos não abrigava mais cervejarias (elas se filiaram ao SINDICERV), apenas cachaças artesanais de Minas. Então nos filiamos e iniciamos um processo de trazer as demais micro cervejarias para dentro do sistema. Em 2005 fomos para a BRASIL BRAU bancados pelo SINDBEBIDAS, eramos apenas nós como filiados e fomos pioneiros no Beer Lounge da Brasil Brau, junto a Devassa, do Rio de Janeiro.
Em 2007 fomos à Brasil Brau junto com a Backer, já filiada. Mas o grande trunfo surgiu agora no mês de junho. Durante a XI Expocachaça, realizada de 5 a 8 de junho no Expominas, a maior feira do Estado de Minas Gerais, com um público de 30 mil pessoas por dia conseguimos emplacar 5 micro cervejarias abastecendo TODOS os 5 restaurantes da feira, como também uma praça da cerveja artesanal, também como presença das 5 micro cervejarias e também da AcervA Mineira.
Com isto causamos verdadeiro furor no setor. A Secretaria de Turismo de Minas já sinalizou no sentido de promover o roteiro turístico das micro cervejarias.
Todas estarão apoiando o III Concurso Nacional de Cervejas Caseiras, em 30 de agosto deste ano.
Em novembro realizaremos a Minas Bier Fest, onde as 7 micro cervejarias filiadas ao SINDBEBIDAS e mais a AcervA Mineira que em breve se filiará, estarão, durante 3 dias, promovendo um verdadeiro festival de cultura cervejeira em Minas. E isto é só o começo, estamos trabalhando mais outras várias frentes, que vão desde a luta pela questão tributária, certificação das cervejarias, programas de qualidade até o incentivo a novas micro cervejarias aqui em Minas.


oBIERcevando - Se não fabricasse cerveja, o que o Marco Falcone fabricaria?

MF - Whisky.


oBIERcevando - A líder do mercado nacional de cervejas, começará a produzir suas próprias garrafas, você acha que agora as micros terão mais atenção das indústrias que fabricam garrafas?

MF - Esperamos que sim. No setor de cachaças artesanais houve uma grande atenção, foram desenvolvidas garrafas de qualidade. E acho que os fabricantes são sensíveis. Um grande fabricante, por ocasião da Brasil Brau nos apoiou bastante, fornecendo a garrafinha que utilizamos para brindar nossos visitantes, o que sinaliza favoravelmente nos sentido do atendimento de novas demandas.

oBIERcevando - E o novo lançamento, a Falke Índia Pale Ale, como surgiu e quando chegará ao mercado?

MF - A India é uma história bem interessante. Ela furou fila. Na verdade fomos procurados pelo Instituto Estrada Real, uma iniciativa incrível de vitalizar o turismo em Minas, revitalizando a estrada que serviu para escoar as riquezas de Minas e enriquecer toda a Europa.
O Instituto nos contratou para desenvolver uma cerveja com a marca Estrada Real e aí fomos decidir que estilo utilizaríamos.
Como se sabe, quando a Inglaterra colonizou a Índia, por volta de 1700, 1750, os ingleses, que não andam sem sua pale ale, levavam barris, que após 3, 4 semanas de viagem, chegava azeda ao destino. Como na época não se conhecia a microbiologia (a pasteurização não tinha sido descoberta) e não existiam conservantes, os ingleses aumentaram a lupulagem (o lúpulo tem ação bactericida) e o teor alcoólico (o álcool inibe atividades microbiológicas). Estava criada então o estilo INDIA PALE ALE.
Por analogia, se o Brasil tivesse sido colonizado pelos ingleses, qual cerveja percorreria por semanas o trajeto da Estrada Real?
Ela chegará ao mercado provavelmente em agosto. Estamos circulando com uma versão teste com a marca Falke Bier India Pale Ale.
oBIERcevando - Uma pergunta indiscreta, porém realista, existe a possibilidade da Falke ser vendida a um grande grupo cervejeiro?

MF - Tenho sido questionado insistentemente sobre o tema e a resposta é sempre a mesma: não fizemos a Falke Bier para vender e ficarmos ricos. Fizemos um projeto de qualidade de vida para a família e qualidade de produto para o mercado. Emprestamos nosso sobrenome à marca (Falke em alemão = Falcone em italiano). Construímos nossa cervejaria junto ao sítio da família, com todos os requintes de respeito aos vizinhos e ao meio ambiente. Pretendemos continuar pequenos e creio que não seremos alvo desta cobiça.

oBIERcevando - Qual outra cerveja que você realmente goste, além da Falke, gostaria de estar degustando agora?
MF - Westvleteren ABT 12

Mais informações: Falke Bier

domingo, 27 de abril de 2008

Entrevista com Sady Homrich

Sady Homrich nasceu em 18 de Abril em Porto Alegre, é baterista da banda Nenhum de Nós, que inicialmente era formado por Thedy Correa (baixo e voz), Sady Homrich (bateria) e Carlos Stein (guitarra), em 1987 o produtor Tadeu Valério, que havia feito à coletânea ‘Rock Grande do Sul ‘ ouviu o som da banda, e algum tempinho depois chegou às lojas o primeiro LP. Em 1988 a faixa “camila, camila” estourou e de repente tudo mudou.
No segundo trabalho intitulado “Cardume” a versão de starman de David Bowie (astronauta de mármore) foi uma das músicas mais tocadas do ano de 1989. E assim até hoje a banda se mantém no cenário nacional com vários sucessos e música boa, e o mais importante é que o tempo de estrada só “molda” mais a banda, melhorando a cada ano.
Sady é formado em engenharia química e Gourmet nas horas vagas. O musico é um apaixonado pela boa gastronomia, cerveja e pela música.
É um dos idealizadores do projeto Extra Malte: por um mundo cervejeiro melhor, que ocorre no Espaço StudioClio em Porto Alegre, além claro do árduo trabalho em divulgar a cultura cervejeira, promover diversos eventos ligados ao assunto e a “bagagem” deste companheiro mostram a importância de te-lo como entrevistado.
Abaixo o bate papo com este ilustre companheiro, e degustem-na sem moderação.

oBIERcevando - Quando e o que lhe trouxe para o mundo cervejeiro?
Sady Homrich - Na minha família a cerveja sempre acompanhou os melhores momentos. Aprendi a respeitá-la com meu tio avô Ubaldo, que me passava o que aprendera com seu avô Adolpho Homrich. Contava que seus irmãos que vieram da Alemanha com ele abriram uma cervejaria no interior do RS. Era a Cervejaria Rodolpho Homrich, em Cachoeira do Sul. Guardo um abridor personalizado como relíquia única dessa época.
Minha formação em Engenharia Química também me levou a conhecer os detalhes técnicos da bebida. E uma sede incalculável me persegue todos os dias...
Desde 1986, como baterista da banda Nenhum de Nós, uma das poucas bandas gaúchas que furou o cerco da região sul, comecei a viajar e conhecer as diferentes cervejas do Brasil. Entrei definitivamente para o mundo cervejeiro quando comecei a colecionar garrafas cheias. Hoje são mais de mil, mas agora prefiro tomá-las.

oBIERcevando - Um tipo de som e um tipo de cerveja que se combinam.
SH - Ahhh... São muitos.... Gosto muito música típica alemã, mas precisa de um contexto. U2 vai bem com uma porter. Outro dia estava escutando o novo do Foo Fighters tomando uma Rauchbier Eisenbahn: foi perfeito!

oBIERcevando - As viagens com a banda Nenhum de Nós já o levaram para uma descoberta cervejeira interessante?
SH - Muitas vezes. Uma das primeiras descobertas foi em 1989 em Canoinhas, no norte catarinense, onde conheci o Sr. Rupprecht Löefller, que fabrica a Nó de Pinho em um verdadeiro museu cervejeiro.
oBIERcevando - Existe um estilo ou escola cervejeira que mais lhe agrada, e por que?
SH - É difícil.... de vez em quando muda... Eu respeito profundamente a cerveja tipo pilsen, desde que tenha as características do tipo, ao contrário da maioria dos colegas cervejeiros, homebrewers e neófitos. É, de longe, a cerveja mais difícil de ser feita. Quando encontro uma de verdade, com excelência em equilíbrio de lúpulos e corpo adequado chego a ficar anestesiado! Pretendo visitar a República Tcheca, paraíso do gênero.
oBIERcevando - Existe namoro entre Cerveja e Gastronomia?

SH - Namoro? Pra mim já estão casados de papel passado há muito tempo. Não consigo pensar em um prato sem relacioná-lo com alguma cerveja. Mas consigo pensar em cerveja sem acompanhamento. Especialmente entre as belgas.
oBIERcevando -Você que acompanha a algum tempo o mercado cervejeiro, qual sua opinião sobre o atual mercado cervejeiro nacional, está bom ou ainda faltam coisas a serem feitas?

SH - É um mercado em expansão. Especialmente no segmento das especiais e super-premium (detesto essa classificação, mas é assim que usam). A venda em volume (das marcas de frente) está muito aliada ao clima. Em 2007 bebeu-se menos cerveja (em litros per capita) do que em 2006, mas a venda de cervejas mais caras aumentou significativamente. Saiu uma matéria na Alemanha que pregava a retomada do mercado pelas artesanais. Acho um bom caminho, desde que não tentem cair no gosto popular. Não se pode vender cerveja de qualidade com menos de 2 euros por litro.
oBIERcevando -A atual cena cervejeira Gaúcha, está ficando interessante com vários Homebrews e micro cervejarias dispostas a trazer produtos diferenciados, pode vir a se tornar um pólo cervejeiro?
SH - Com certeza a imigração européia contribui para esse fato. Acho normal que haja uma proliferação de micro-cervejarias pelo estado, pois está provado que é possível ser independente. Recentemente foi criada a ACERVA Gaúcha, onde homebrewers se organizam em busca de experiências, conhecimentos, acesso a insumos e para matar a sede!
oBIERcevando - Na última visita do Garret Olivier ao Brasil, você pode conversar com ele, o que aprendeu sobre cerveja e ficou gravado para levar para o resto da vida?
SH - Que não se pode ter medo de começar. Ele está à frente de uma microbrewery que é referência na América com muita competência. Apresentou séries especiais de cervejas que faz apenas para beber com amigos (uma Chocolate Stout inesquecível, por exemplo) sem perder a humildade. E ainda faz um excelente hambúrguer cajun-style!


oBIERcevando - Indicaria uma região cervejeira no mundo para conhecer?
SH - O sul da Alemanha. Um dia ainda chego lá!


oBIERcevando - O projeto Extra Malte: por um mundo cervejeiro melhor, que ocorre no Espaço StudioClio em Porto Alegre, na qual você é o curador do projeto, já tem a programação deste ano, quais datas e convidados estão confirmadas?

SH - Depois vou passar a agenda para o oBIERcevando. Estou com dificuldades de agenda, mas o Micael Eckert (da Coruja) já pegou o jeito e vamos dividir a apresentação. Já vai o recado pra Cilene Saorin: vamos entrar em contato pra formalizar o convite. É sempre um prazer dividir momentos cervejeiros contigo!

oBIERcevando - O Burgomestre está ativo, é um militante da cultura cervejeira nacional, há como palestrar, ensinar pessoas que estão dispostas a conhecer o mundo cervejeiro?

SH - Faço apresentações, palestras e degustações para iniciantes em encontros de empresas. Adoro levar um pouco da cultura cervejeira, especialmente para aqueles que se dizem amantes do líquido, mas só bebem pra matar a sede. Também temos visto a migração de enófilos para as gôndolas cervejeiras. Basta mostrar o caminho e eles o trilharão com prazer!

oBIERcevando - Os fãs do Nenhum de Nòs já vieram falar sobre cerveja contigo?
SH - Falar, perguntar, beber... freqüentemente ganho copos, rótulos e cervejas de fãs que sabem das minhas preferências!


oBIERcevando - A pergunta de praxe, que cerveja você gostaria de estar tomando agora, uma que realmente lhe "emocionou" ao tomá-la?

SH -
Unertl. Uma Hefe-Weissbier da Bavária que guarda aromas e sabores que só existem ali. Ganhei do Herbert Schumacher (Cerv. Abadessa) quando veio da Alemanha em 2006. Ao tentar importá-la ele recebeu o recado do mestre-cervejeiro alemão: “Ficamos satisfeitos em saber que nossa fama atravessou tantas fronteiras, mas não vendemos nosso produto para lugares que fiquem distantes mais de 100 quilômetros da torre da igreja da nossa cidade.”

Abraço ao Paulo Feijão e aos leitores do oBIERcevando.
E QUE A FONTE NUUUUUUUNCA SEQUE!!!!

quarta-feira, 19 de março de 2008

Entrevista com Eduardo Passarelli

O empresário e cervejólogo Eduardo Passarelli é graduado em Gastronomia pela UniFMU de São Paulo, e especialista em Gestão de Negócios de Serviços de Alimentação pelo SENAC, hoje é um dos maiores especialistas no assunto cerveja, além de ser especialista em harmonizações da bebida com pratos da alta gastronomia, é um dos fundadores da Acerva Paulista, faz um árduo trabalho em divulgar a cultura cervejeira nacional, presente em vários eventos ligados ao assunto e o conhecimento que possui não poderia ficar de fora das entrevistas promovidas pelo oBIERcevando.
Além claro de ser um companheiro de batalha por uma cultura consistente, é companheiro no copo, blogueiro ( Edu Recomenda ) e em breve trará mais novidades, agora segue um ótimo bate papo com Eduardo Passarelli, degustem sem moderação.

oBIERcevando - O que veio primeiro, o amor pela gastronomia ou pela cerveja?

oBIERcevando - Qual a foi a cerveja que lhe despertou para o mundo cervejeiro?
EP - Uns 3 ou 4 anos após abrir meu restaurante um grande amigo me convidou para tomar uma cerveja diferente, que segundo ele era servida de modo espetacular e em um belo copo. Era a Erdinger. Quando tomei a cerveja percebi que ali tinha muito mais sabor do que nas cervejas que eu estava acostumado a beber. Chegando a minha casa comecei a pesquisar sobre o assunto, e fiquei espantando em ver a diversidade de cervejas, tipos e estilos que existiam no mundo. E eu achando que tínhamos a melhor cerveja por aqui...

oBIERcevando - É fácil fazer uma harmonização, existem regras?
EP - Fácil não é, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. Requer principalmente muito conhecimento de gastronomia e cervejas, digo, do paladar de ambos. Por exemplo, quem vai elaborar um cardápio harmonizado não pode testar todas as combinações em todas às vezes. Precisa buscar em sua memória gustativa as características da cerveja e do prato.

oBIERcevando - Qual estilo de cerveja é o mais versátil na harmonização, aquele
que harmoniza fácil com qualquer prato? Por quê?
EP - As cervejas de trigo, graças a seu paladar refrescante e sua boa carbonatação são muito versáteis nas harmonizações.

Edu e eu na Oktoberfest 2007
oBIERcevando - Na harmonização, comida e cerveja, acontece mais por semelhanças ou por contraste?
EP - Varia muito. Ambas funcionam bastante, e é sempre necessário trazer equilíbrio ao conjunto. Por exemplo, temos casos em que a semelhança é a melhor pedida (doces) e em outros é terrível (ácidos). E também pode acontecer com o contraste. Portanto, conhecimento é prática são muito importantes.

oBIERcevando - Jogando lenha na fogueira, por que cerveja e não vinho?
EP - Risos. Sou apreciador de ambas as bebidas, apesar de que nos últimos anos tenho consumido poucos vinhos, devido ao trabalho com as cervejas. Acredito que cada um tem o seu momento certo para o consumo.

oBIERcevando - A alta gastronomia está muito ligada ao vinho, a cerveja terá seu espaço?
EP - Sim, não só terá como já tem. Sei que o espaço ainda é pequeno, mas as portas já estão abertas. Agora cabe aos profissionais da área seriedade e muito empenho, para educar a população sobre a qualidade das “verdadeiras cervejas”. E temos muito trabalho pela frente!

oBIERcevando - Alemanha, Bélgica, Inglaterra, EUA, qual sua escola cervejeira preferida?
EP - Todas são bastante interessantes e muito diferentes uma das outras. Costumo transitar por todas, mas poderia dizer que hoje em dia estou mais para a escola inglesa. Porém, logo isso muda. E muda, muda, muda...risos.

oBIERcevando - Qual cervejaria do mundo gostaria de conhecer?
EP - Posso escolher duas? A Ommegang, de Nova Iorque, e a belga Rochefort.

oBIERcevando - A Acerva Paulista, como filiar-se e quando será o próximo
encontro?
EP - Para se filiar, procure as informações em: http://acervapaulista.com.br/. Nosso próximo encontro será em 28 de março, no Tortula. Este encontro é aberto a todos os interessados em produção caseira de cervejas, ou até para os que queiram apenas bater um papo sobre boas cervejas.

oBIERcevando - E as suas produções cervejeiras, o que ainda não produziu e ainda irá fazer? Existem limitações para produzir cerveja no apartamento?
EP - Logo começo as produções para o concurso nacional, que acontece em agosto, em Belo Horizonte. Para lá vou produzir três cervejas, para as três categorias concorrentes (IPA, Weiss e Belgian Ale). Fora estas, penso em produzir uma Barley Wine. Em breve!
Brinco que a maior dificuldade em produzir dentro de um apartamento é convencer a esposa! Fora isso, é legal ter um local para uma geladeira de fermentação. Não é primordial, mas ajuda bastante a conseguir qualidade nas produções.

oBIERcevando - É difícil ainda falar de cervejas com o público? (Edu ministra palestras sobre cerveja)
EP - Não mais. As pessoas hoje são muito curiosas com o assunto. E, melhor ainda, muitos são abertos para a “novidade”. Claro que sempre existem os relutantes. E até mesmo estes, quando tem a oportunidade de fazer uma boa degustação, dão o braço a torcer!

oBIERcevando - Um rápido bate-bola:
Malte: Caraaroma
Aroma: Levedura belga
Tempero: Tomilho
Espuma: Densa e duradoura
Cerveja: Three Philosophers
Revista: Prazeres da Mesa

oBIERcevando - A pergunta de praxe, uma cerveja que realmente goste, poderia estar tomando agora?
EP - A americana, produzida por belgas, Three Philosophers, da cervejaria Ommegang.
Agradeço ao Edu pela entrevista, e assim como ele há outros nobres companheiros empenhados na luta por uma Cultura Cervejeira Nacional forte e consistente, quem quiser acompanhar o trabalho do nobre é só acessar Edu Recomenda.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Entrevista com Leonardo Botto

Leonardo Botto, 29 anos, advogado e mais um apaixonado por cerveja, no entanto que, se tornou um dos cervejeiros caseiros com maior reconhecimento pelo conjunto de suas obras, obteve grandes êxitos nos concursos que participou e sempre está presente nas finais de concuros cervejeiros. Em 2006 foi dele o grande triunfo no concurso da Acerva Carioca, pegou um primeiro lugar na categoria "estilo livre" com a rauchbier Feiticeira, e na categoria "Pale Ale" com a Maligna, além disso faturou o segundo lugar na categoria livre com a oatmeal stout Vidua Nigra e o terceiro lugar na categoria pale ale com a Cheirosa.
Neste ano porém as coisas caminhavam a passos lentos para o Botto, usando um termo futibolístico: raspando na trave. Em Campinas no concurso organizado pelo pessoal da Cerveja Artesanal, ficou em segundo lugar na categoria Pale Ale. E no concurso da Acerva deste ano, ficou em quarto lugar com a Belgian Dark Ale "Dama do Lago", que por ironia veio mudar o cenário e tirar este ano "rubinho" para o caro botto, que só batia na trave, a Dama do Lago foi a grande vencedora do concurso da Eisenbahn em parceria com a Revista Beer, agora a Eisenbahn vai produzir 3 mil litros da cerveja do Botto, que virá até Blumenau para acompanhar a produção com o mestre-cervejeiro Gerhardt Beutling, e de quebra ganha uma assinatura de 1 ano da revista Beer, e além disso leva embora com ele 30 caixas da cerveja Dama do Lago produzida na Eisenbahn, rótulo especial com a assinatura do inventor, o pai da Cerveja, o Botto, o restante das caixas da cerveja, bom... é melhor tirar as crianças da sala....
Para quem não reparou nos rótulos das cervejas do Botto ou no desenho acima, verá que o Monge Cervejeiro é uma caricatura do próprio Botto, obra do cartunista Tibúrcio que desenha para a revista Mad, o desenho do rótulo da Thor que diga-se de passagem é muito legal, também foi desenhado pelo Tibúrcio, além claro da caricatura da Tati, querida esposa do Botto, que aparece no rótulo da Feiticeira, "enfeitiçando" o "monge cervejeiro".
Parabéns ao amigo Botto, pelo excelente trabalho feito para a cultura cervejeira nacional, pelas maravilhosas cervejas produzidas, por mais esta vitória e obrigado a Tati por incentivar o nobre amigo, sucesso, e para os caros leitores do oBIERcevando, abaixo uma grande entrevista com o Botto, degustem-a sem moderação.



oBIERcevando - Os nome "mitológicos" ( Thor, vidua, Dama do lago, etc ) de suas cervejas, como surgem, tem relação com a cerveja?

Leonardo Botto - Sempre busco conciliar o nome com algumas das características da cerveja e com quem quero homenagear. A Thor, por exemplo, é uma cerveja do estilo doppelbock (Bode duplo ou dois bodes), originário da Alemanha. É uma cerveja encorpada, forte, com 9% de álcool. Por sua vez, Thor é personagem da mitologia nórdica germânica, respondendo por filho de Odin, e conhecido por sua força. Foi Thor o responsável por roubar do gigante Hymir um enorme caldeirão, com o qual seria feita grande quantidade de cerveja e hidromel para os deuses. Thor tinha ainda uma carruagem puxada por dois bodes, de nomes Tanngnost e Tanngrisni.
Vidua Nigra significa viúva negra em latim, e usei este nome pra designar uma oatmeal stout, de coloração negra como a aranha. O nome viúva-negra vem do fato de que logo após a relação sexual, a fêmea, necessitando de alimento, mata o macho para se alimentar. Alguns machos levam consigo um pequeno “presente” para a fêmea, geralmente um inseto que é ofertado logo após o relacionamento a fêmea, para que com isso a mesma poupe sua vida. Entre outras causas, o nome veio daí, e podemos encarar a cerveja como o “presentinho” para as mulheres, que normalmente preferem as cervejas escuras, mais adocicadas, ou como a própria viúva negra, que levará os que dela beberem ao êxtase, matando de prazer.





oBIERcevando - sempre gostou de cerveja, ou teve aquela fase que, o que vier eu bebo?

LB - Sempre gostei de cerveja, que é a única bebida alcoólica que bebo.


oBIERcevando - Qual a principal leitura para um Homebrew?

LB - Existem alguns livros legais, alguns até possíveis de serem baixados pela internet, mas na grande maioria livros de consulta. Recomendo a leitura do The Brew Master’s Bible, How to Brew, Designing Great Beers, entre outros. Todos são bem legais, mas o mais importante é a troca de experiências, seja através do Orkut, sites espalhados pela rede, ou com amigos cervejeiros.



oBIERcevando - É difícil fazer cerveja caseira, qual a pior dificuldade?

LB - Não, definitivamente não é difícil. O processo é trabalhoso e acho que este é o maior empecilho. Outras dificuldades são a obtenção de bons insumos, equipamentos, sanitização destes e espaço.


oBIERcevando - E as vantagens de fazer cerveja caseira?

LB - Você fazer sua bebida da forma como quiser, suprindo um pouco o abandono do mercado brasileiro às cervejas de qualidade, dos mais variados estilos. Para muitos é uma loucura se gastar tanto empenho na elaboração de uma cerveja, visto que se pode comprá-las em qualquer esquina e sem trabalho, mas o simples fato de você fazer já é mágico e compensador. A cerveja é uma bebida social, agregadora, desde sempre envolvida em cultos religiosos, comemorações, oferendas a deuses, entre outros predicativos, e, de uma forma ou de outra, destinando ela aos nossos amigos e familiares é como se os cultuássemos. Volta aqui a questão da importância da qualidade, uma vez que a cerveja simboliza nós mesmos, como se fizéssemos parte da bebida, e ninguém gosta de mostrar seus defeitos, certo?


oBIERcevando - Só através de associações está ficando viável comprar matéria prima, ou os principais fornecedores estão começando a enxergar os Homebrews?

LB - Ainda são bem poucos os fornecedores, mas estes começam a dar sinais de preocupação conosco, com nossas necessidades, aumentando a oferta de possibilidades para a prática do nosso querido hobby. Mesmo assim ainda temos que recorrer com certa freqüência a importações de equipamentos e insumos, principalmente da Argentina e Estados Unidos.



oBIERcevando - Como surgiu a ACervA Carioca?

LB - Surgiu de reiterados encontros de cervejeiros caseiros aqui do Rio, onde as cervejas degustadas eram as nossas. Inicialmente objetivava apenas um intercâmbio de experiências e conhecimentos, mas com o fortalecimento das amizades começamos a vislumbrar compras conjuntas de matérias primas e equipamentos, maiores encontros e concursos.
Em janeiro de 2006 éramos apenas sete cervejeiros reunidos, mas a cada novo encontro outros cervejeiros se juntavam a nós, muito devido aos cursos de produção do pessoal da Confraria do Marquês, e nossos objetivos foram crescendo. Em Outubro de 2006 fundamos a ACervA Carioca com 21 associados, já marcando pra meados de dezembro do mesmo ano nosso primeiro concurso, ventilado já há alguns meses atrás.




oBIERcevando - Quais as principais propostas e o futuro da ACerva Carioca?

LB - Nossa próxima meta é montarmos nossa sede, com uma cervejaria escola acoplada. Será uma sede social e instrutiva voltada para cultura da cerveja e da amizade, onde os cervejeiros que não dispuserem das mínimas condições para o fabrico possam solucionar o entrave, produzindo suas cervejas.
Outra coisa muito importante pro cenário brasileiro de cervejas, que merece destaque e que é meio pra um dos nossos objetivos, é a criação de outras associações de cervejeiros caseiros, como a ACervA Mineira e a Paulista, e a recém chegado ao grupo Acerva Gaúcha, além de outras nascituras, como a de Santa Catarina. Independentemente do nome adotado por cada qual delas, sendo os fins os mesmos, unidos fortaleceremos nacionalmente o movimento de resgate da esquecida cultura cervejeira, proporcionando a todos nós cada dia melhores cervejas, com a valorização da qualidade da bebida em detrimento da quantidade.
Sendo assim, numa espécie de “descentralização cervejeira”, a idéia é criarmos a ACervA do Brasil, ou brasileira, que ficaria responsável pela organização do grande, itinerante e anual concurso nacional de cervejas, ficando as ACervAs regionais incumbidas de promover encontros menores, mais voltadas pros seus membros e pro crescimento local da cultura cervejeira.



oBIERcevando - O segundo concurso de cervejas artesanais, organizado pela ACervA Carioca foi um sucesso, ano que vem podemos esperar mais?

LB - Tem tudo pra ser um novo sucesso. O III Concurso Nacional de Cervejas Artesanais deverá ocorrer no final do primeiro semestre em São Paulo, iniciando o rodízio dos Estados. Se mantiver o pique de crescimento, temo pelo futuro da Ambev, hehehehe.


oBIERcevando - Dentre os variados estilos que vocês já produziu, qual deu mais trabalho, e qual você mais gostou?
LB - Sem dúvida alguma foi a Thor que me deu mais trabalho e satisfação. Pela dificuldade em fazê-la, uma lager (doppelbock) que mesmo com seus 9% de álcool é fácil de beber, que equilibra bem a potência do álcool com o dulçor do malte.



oBIERcevando - Temos hoje praticamente 4 escolar cervejeiras, alemã, belga, inglesa, e a recém criada americana, qual você se identifica mais, e por que?

LB - Pela ordem, identifico-me mais com a alemã, depois com a inglesa, belga e americana, embora goste de todas. A razão desta identificação que é difícil dizer, pois até poderia alegar que é herança da minha bisavó materna, de procedência germânica e que fazia cerveja em casa há mais de 40 anos, mas não é tão simples assim, e acho que tudo quanto disser será meio inventado, hehehe. Gosto muito mais de cervejas secas e menos frutadas. Adoro lagers e sou bastante conservador no tocante ao uso de especiarias e alguns adjuntos. Talvez sejam estas as melhores explicações, mas não todas.



oBIERcevando - O que falta no Brasil para termos um cultura cervejeira forte e consistente, na sua opinião?

LB - Maior diversidade de tipos de cervejas nas prateleiras dos mercados; melhores preços (menos impostos, menor margem de lucro); valorização da qualidade da cerveja em detrimento da quantidade; doutrinação dos consumidores, até hoje ainda ignorantes quanto ao que se esperar de uma cerveja, que pensam existir dois tipos: a clara e a escura, ou a leve e a forte.
Recentemente estive participando junto do Edu de um evento gastronômico em Parati, que comentei contigo, e não raro ouvimos de chefs conceituados que cerveja não casa com nenhum prato. Talvez falem isso movido por um preconceito arraigado nas cervejas comerciais mais comuns, que ainda hoje monopolizam as gôndolas dos supermercados. Precisamos expor tais pessoas às cervejas de qualidade, ensinando-os sobre estilos e usos, permitindo captarem o todo oferecido pelas bebidas.


oBIERcevando - Qual era sua expectativa em relação ao concurso da Eisenbahn?

LB - A minha expectativa era de ganhar, mas na hora da escolha, de qual cerveja eu iria inscrever no concurso fiquei em dúvida, perguntei para diversos amigos e conhecidos o que achavam, com certeza na minha opinião iria a Thor, uma doppelbock maravilhosa, minha preferida, mas depois de muito pensar e ouvir dos amigos mandei a Dama do Lago, uma Belgian Dark Ale, e sinceramente era uma das minhas ccervejas que não acreditava no seu potencial neste concurso, ainda mais depois que vi as pesquisas do dataBOB que o título talvez ficasse pelo Sul, estava acreditando apenas que subiria ao podium, talvez com um bronze, fiquei na expectativa, mas foi uma inexplicável surpresa.



oBIERcevando - Mais um campeonato, e agora muda alguma coisa, os objetivos, as cervejas, as propostas?

LB - Não muda muita coisa não, fico extremamente feliz com o reconhecimento, a alegria que foi proporcionada por esta vitória, isso é claro, pois se trata de um concurso nacional, de uma micro, porém uma grande cervejaria, uma referência, e poder fazer algo junto com eles sem dúvida é emocionante.



oBIERcevando - E agora, as pessoas irão cair de cabeça no Lago, ou melhor na Dama do Lago, sua cerveja campeã?

LB - Risos, eu espero que sim, a cerveja é bem equilibrada, saborosa, e junto vem todo um trabalho de pesquisa e procura dos ingredientes certos para deixar ela bem feita, acho que juntando tudo isso ela será bem aceita, e também desde quando pai fala mal do filho, risos.


oBIERcevando - Para encerrar meu caro, a pergunta de praxe, qual cerveja você gostaria de estar tomando agora, sem ser uma Botto Bier?

LB - Essa é fácil, as cervejas caseiras dos amigos.


Mais informações no site: Botto Bier