sexta-feira, 5 de abril de 2013

SE LIGA....


Conforme informado pelo nobre amigo André Junqueira de Curitiba, da Morada, algumas pequenas correções no texto, com dados mais precisos sobre o assunto.

No Brasil, para usar a palavra cerveja no rótulo tem que ter ao menos 20% de malte. Neste caso a denominação da bebida será " Cerveja de XXX", onde o "XXX" é o outro ingrediente predominante nos 80% restante. A exigência de 55% é para denominar apenas como "Cerveja" no rótulo, o restante pode ser outros cereais, maltados ou não.  
Os famosos cereais não maltados ou cereais cervejeiros indicados nos rótulos das principais marcas do país são simplesmente quirela de arroz ou gritz de milho. Porém as marcas populares não destacam estes ingredientes nos rótulos, será que causaria desconforto em seus clientes? Aliás, é de conhecimento que estas marcas populares já utilizam menos de 55% de malte na receita, além de descumprir a lei, enganam o consumidor que ainda venera e defende a marca preferida.

  

Na ultima reunião realizada em Brasília, cerca de um mês e meio atrás, com o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) órgão que rege o setor, , as micro cervejarias solicitaram que fosse destacado no rótulo a utilização do Corante Caramelo, pois as grandes cervejarias vem utilizando até mesmo na "Pilsen" deles o corante para acerto de cor, você sabia disso? 

Eles alegam que não tem como colocar no rótulo, pois não usam sempre, hã hã sei, e sim esporadicamente para "correção de cor". Portanto seria inviável mudar o rótulo a cada lote, caso tenham usado ou não o corante. Uma informação que não chega ao consumidor e o mesmo deveria saber, para fazer melhor suas escolhas. 

E uma ultima informação desta reunião é que a duas grandes cervejarias sugeriram o aumento do limite mínimo de malte de cevada na composição da cerveja, acreditem se puderem, mas a dona do mercado sugeriu que ficasse do jeito que está.
Recentemente um estudo realizado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da USP de Piracicaba, e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), comprovou a prática desleal de utilizar mais cereais não maltados do que o permitido.


O principal motivo da utilização destes ingredientes é a retirada, extração, exclusão, subtração das principais características da cerveja: o corpo, a cor, o sabor e o aroma. Visto que, com menos malte e também menos lúpulo e mais cereais não maltados, a cerveja fica mais “leve”, “suave” ou então “abrasileirada”. Este termo abrasileirar, além do uso indevido, desmerece o paladar do consumidor brasileiro, porém é fato que a grande maioria não gosta mais de sentir sabor na cerveja e o principal problema para muitos é o amargor.


Geralmente são as pessoas mais velhas que apresentam este repudio ao amargor, daí pergunto: Você tomava cerveja no final dos anos 70 e começo dos anos 80? Se a resposta é afirmativa, conto uma historinha verídica a ele: Sabia que naquela época a marca Y, que o senhor tanto gosta, tinha 28 IBU’s (Unidade que mede o amargor da bebida) e que hoje esta mesma marca tem no máximo 8 IBU’s? O que aconteceu com seu paladar? Ele se  atrofiou? Vou além e pergunto se gosta de comida de hospital, a resposta é a mesma com todos, ninguém gosta. Então por que o problema está com a cerveja, se ela tem sabor intenso, aroma intenso, ela é ruim, é muito forte e não dá para beber. Solicito uma gentileza, reveja seus conceitos.


O mote disso tudo é a constante comparação dos consumidores, pontos de venda e até mesmo distribuidores,  com cervejas de baixíssima personalidade sensorial (água colorida com gás) com cerveja artesanal. A comparação e preocupação é sempre a mesma, a diferença de preço. Poxa, muito simples, por que o carro Camaro, não tem o mesmo preço do Gol, ninguém vai lá reclamar com a Chevrolet que está caro, aliás, ninguém faz esta comparação óbvia. E com a cerveja, não poderia ser assim também, sem comparações absurdas? 


Não dá para comparar, grandes e médias indústrias cervejeiras têm produções em volumes grandes, conseguindo diluir o custo facilmente, uma série de incentivos fiscais nos estados, um grande poder de barganha na hora de comprar insumos, pagam percentuais de impostos menores que as micro cervejarias, utilizam cereais não maltados, quantidades mínimas de lúpulo.  Já micro cervejarias tem produção em volumes pequenos, consequentemente a diluição do custo se complica. Praticamente nenhuma negociação na hora de compra de insumos, altos impostos, a maioria utiliza somente malte e quantidades generosas de lúpulo, o ingrediente mais caro da cerveja. Resumindo, não tem como comparar.


Então, as micro cervejarias devem explicar ao seu consumidor estes fatores, elucidando seu cliente sobre a diferença, sobre o seu trabalho. Também não se basear em políticas comerciais de grandes cervejarias, esta “prostituição”da nossa pequena fatia do mercado é ineficaz e prejudica a todos.  Convoco a todos a comparar e separar o Joio do Trigo, antes que a erva daninha tome conta da plantação. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Nem tudo que brilha é Ouro



Notável o crescimento do mercado de cervejas “especiais”, “gourmets” ou “artesanais”. Isso se deve ao trabalho de muitos que amam fazer/trabalhar com cerveja. Vide o número expressivo de  cervejarias surgindo no país, segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) que fiscaliza o setor, no ano passado surgiram 31 novas cervejarias no país, um número expressivo e que tende a aumentar com o passar do tempo.


Interessante notar que junto as novas cervejarias, estilos pouco conhecidos pelos consumidores brasileiros começam a se tornar populares, alguns caindo facilmente no gosto do povo.
Um estilo de cerveja tem como base quatro princípios básicos: teor alcoólico, cor, amargor e características sensoriais (aroma e sabor).  Além de todo conteúdo histórico que determinado estilo carrega ao longo de séculos de tradição. Todos estes critérios estão baseados em duas instituições americanas, o BJCP (Beer Judge Certification Program) e a Brewers Association que publicam e cuidam das atualizações dos guias de estilos.


Com isso, não poderia desenvolver uma cerveja ale escura, com 7% de álcool e dizer que é uma Pilsen, longe disso, uma Pilsen, seja Bohemian ou German, tem que ser dourada, ter de 4% até 5,5% de álcool, etc. Por isso existem regras para classificação de estilos, para que não tenha confusão na hora de produzir uma nova cerveja e orientar o consumidor sobre o que ele está comprando. Estes guias também servem de base para competições cervejeiras.


Na atual cena cervejeira brasileira, temos diversas cervejarias fazendo a lição de casa bem feita, seguindo a tradicional escola alemã, ou então fazendo ótimas cervejas belgas e aquelas que utilizam como referência a antiga escola inglesa. Além destas três, temos cervejarias inovadoras seguindo a tendência americana em produção de cerveja, uma nova escola que ainda irá escrever muitas páginas na história da cerveja mundial.
Entretanto nem tudo que brilha é ouro, percebe-se algumas cervejarias que “ainda não se encontraram” afirmando que estão fazendo um determinado estilo, que ele é daquele jeito e pronto! Sou da opinião que realmente não deve haver limitação na criação, mas desde que esta inovação seja benéfica e que agregue ainda mais personalidade ao estilo. 


Este pensamento de dono da razão é prejudicial, pois educa de maneira errada o consumidor, querendo dizer que 2+2=5. A tendência do momento é fazer estilos de cervejas com forte personalidade de lúpulo, com cada vez menos lúpulo. E dizer que a cerveja não é americana é inglesa, se referindo as duas escolas cervejeiras. Afirmam que os americanos são apaixonados por lúpulo, e isso é verdade, fazem cervejas extremamente lupuladas, outra verdade. E que os ingleses, inventores de muitos estilos com forte personalidade de lúpulo, fazem cervejas com pouco lúpulo, com pouco amargor, uma mentira sem vergonha. Claro que uma IPA Americana é diferente de uma IPA Inglesa e que ambas são muito diferentes de algumas IPA’s Brasileiras, que ficam no limbo e não sabem para onde irão. Isso acontece com Pale Ales também.


Não dá para deixar isso passar em branco, sem avisar a todos, antes que se torne moda falar “a minha cerveja não é americana, é inglesa, por isso é suave e tem mais malte do que lúpulo no sabor”, isto falando de uma IPA. Um bom exemplo de cerveja inglesa disponível no mercado é a tradicional Adnams que o MR. BEER está importando exclusivamente para seus pontos de venda. A Adnams Ghostship é uma Pale Ale que apresenta lúpulo do começo ao fim, é bem amarga e um final seco que pede outro gole. Então, por favor, nada de querer me dizer que sua cerveja é inglesa, pois vou contestar, e não me venha então dizer que é uma versão “abrasileirada” do estilo, para que o consumidor não se assuste. Se está com medo, para que veio? Ou então, se não aguenta vai produzir leite.


Existe inúmeras maneiras de conseguir informações sobre estilos, visite o país de referência, compre livros, pesquise na internet, consulte um cervejeiro caseiro, contrate um bom beer sommelier para trabalhar junto, tenha um pouco de cuidado com o que informa, pois todos queremos crescer, e juntos com o mesmo objetivo e conhecimento, será mais fácil.