quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Opinião

O mercado cervejeiro nacional demonstra que ainda teremos uma cultura consistente e muito forte no Brasil, assim como em países mais tradicionais: Bélgica, Alemanha, Inglaterra ou até mesmo os EUA que mostra claramente um infinito entusiasmo com o nobre líquido. Acredito no Brasil devido as pessoas que estão dentro e outras que estão entrando no mundo da cerveja, demonstrando grande amor e seriedade, porém esta cultura no Brasil vai demorar quanto tempo para se solidificar?

Em diversas oportunidades conversei com pessoas que trabalham e estão envolvidas direta ou indiretamente no setor, dos diversos estados Brasileiros, infelizmente há como dividir estes estados pelo desempenho e união na hora de levar educação cervejeira ao consumidor, fortalecendo muito o mercado regional e conseqüentemente o nacional.

Posso começar relatando o fato que as microcervejarias de determinada região mal se conhecem, pouco conversam, são extremamente concorrentes, óbvio que a concorrência tem que existir porém de forma sadia, e ficam brigando literalmente por migalhas, dado o número “ainda” pequeno de fiéis consumidores das cervejas produzidas por microcervejarias. Quem perde com isso? Todos nós, pois temos daí um mercado na qual o foco é o concorrente e não o consumidor, que levaria informação adiante e conseqüentemente uma proliferação da educação cervejeira, a própria cervejaria perde tendo pouco giro dos produtos, trabalhando apenas com produtos padrões (Pilsen e “Escura”) o famoso Arroz com Feijão, e a própria Cultura Cervejeira Nacional perde, pois atrasa ainda mais o fortalecimento da mesma.

Em comparação temos Estados trilhando caminhos muito consistentes neste sentindo, visualizaram que só juntos conseguirão trazer mais pessoas para este “lado da força” e que juntos irão conseguir mais benefícios, promovem diversos eventos ligados a cerveja, incentivam os cervejólogos, zitófilos, cervejeiros caseiros e afins, desenvolvem uma concorrência sadia, conversam entre si, reúnem-se com mais freqüência, naturalmente o estado se destaca e as cervejarias também, isso desperta a curiosidade do consumidor em conhecer o trabalho que está se desenvolvendo, assumindo este tipo de comprometimento sem dúvida facilita muito e provavelmente trará resultados, além do fato de levantar curiosidade de outras cervejarias em saber o que fazer para conseguir este destaque no mercado.

A resposta está ai!!! Enquanto se dispuserem única e exclusivamente em se preocupar com o vizinho, que ele é só concorrente e não pode ser parceiro, copiar o que ele está fazendo, ou achar que o consumidor é quem tem que bater a porta da cervejaria, assim as coisas realmente ficarão muito difíceis.

Porque não inovar? Então porque não juntar forças, reunindo todos em alguma das cervejarias e planejar uma ação conjunta, focada nos clientes, sem estimulo os habituais clientes das cervejas industriais não exitarão em continuar tomando suas garrafas pelo valor X ao invés de tomar um copo de chopp pelo valor Y. Informar-se mais sobre a cerveja no mundo, manter atualização constante, existem muitas fontes para pesquisa, aprender que a cervejaria além de ser um negócio é preciso gostar de cerveja, é necessário conhecimento, muitos locais ainda acham que no Brasil só o Pilsen vende e produzem três, quatro estilos de “Pilsen”.

O mercado artesanal cresce de maneira expressiva, entretanto os estilos de cervejas produzidos ainda no Brasil são insignificantes, o famoso arroz e feijão já está saturado no mercado, as pessoas gostam de degustar uma boa Pilsen, um bom bock ou dunkel, isso dando nome as cervejas oferecidas como “escuras” ainda em muitas microcervejarias, é dentro de casa que devemos demonstrar credibilidade, fazer a lição de casa, mas a saturação destes poucos estilos é fato, claro que “ainda’ nenhuma cervejaria no Brasil consegue se manter apenas com cervejas especiais, mas os consumidores em potencial precisam de incentivo. Um exemplo ruim disto são cervejeiros ou turistas rodarem quase 300km. para chegar em uma, duas, três cervejarias e tomar o chopp “claro ou escuro”, alguns ainda sem personalidade alguma. É preciso evoluir, arriscar, colocar na reta, pois quem está conseguindo solidificar a identidade cervejeira brasileira são os Homebrews, que a cada ano surpreendem e não param de reinventar estilos, vide o recente prêmio da Demoiselle, a Cerveja Tcheca, Moçambique. Quando é lançado algum estilo diferenciado por uma microcervejaria disposta a inovar, o sucesso é certo, todos querem tomar, comprar e o nome da cervejaria tem uma mídia espontânea imensa. Porque não se aproveitar disto?

O custo para produzir uma cerveja diferenciada é maior, entretanto o retorno a médio prazo é sólido e será gratificante, a Eisenbahn chegou aonde chegou por que? Produziu no Brasil a quatro anos atrás uma Weizenbock, lançou depois uma cerveja estilo Rauchbier, estilo que poucas pessoas conheciam, inovou, meteu a cara a tapa, a Colorado trilha o mesmo caminho, a Bamberg, a Falke bier, a Schmitt, e mais algumas poucas cervejarias estão dispostas a isso.
O brasileiro gosta do Arroz com feijão, porém uma macarronada ou uma pizza de vez em quando não vai nada mal, é super pertinente comentar sobre o slogan de uma microcervejaria americana que se encaixa perfeitamente neste momento: “Quatro ingredientes, infinitas possibilidades”, pronto esta ai uma resposta.

A burocracia brasileira é a pior barreira das microcervejarias, sempre favorecendo quem tem dinheiro, travando projetos de apoio a este mercado, exemplo foi não permitirem determinada cervejaria de produzir uma Wit bier comercialmente, devido a casca de laranja na receita, não poderia ter, porém a mais famosa Wit bier do mundo pode ser importada, o argumento do ministério foi que ela não é produzida aqui, daí pode?
Mesmo diante disto tudo acredito cada vez mais na cultura cervejeira brasileira e digo só uma coisa, pelo menos nós brasileiros não vamos desistir nunca.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Entrevista com Dudu Toledo da Nacional FT

O economista Luís Fabiani morou 3 anos nos Estados Unidos, conviveu com cervejeiros caseiros e acabou se apaixonando pelo assunto, estudou detalhadamente todo o processo para fabricação de cervejas caseiras.
De volta ao Brasil, começou a produzir cerveja em casa. Apresentou suas cervejas ao amigo que trabalha com computação gráfica Dudu Toledo que as degustava e sempre pedia mais. Resolveram em 2006 montar uma microcervejaria para colocar em prática as receitas caseiras de sucesso. Tiveram a sorte de conhecer Elvis, cervejeiro de primeira e já com experiência em produção.
Com um grande time já formado, ainda acolheram um químico, o bem humorado Deli Miranda que entende de limpeza como ninguém.
Pronto! Equipe cervejeira de primeira linha e que ainda conta com a gerente geral Fernanda Toledo para por ordem na casa.
Está é a MICROCERVEJARIA NACIONAL FT, que produz cervejas diferenciadas para um público "ainda" diferenciado, dentro do município de São Paulo é a única que produz cervejas comercialmente diferenciadas e com qualidade, poucos lugares comercializam os três estilos produzidos, estes foram escolhidos ao acaso, claro que se alguém tiver interesse em comercializar, eles podem produzir uma cerveja exclusiva para o estabelecimento, nada que uma boa conversa não resolva. Abaixo uma entrevista com o Dudu Toledo, que junto ao Luiz Fabiani e o Toni, estiveram em Santa Catarina e por pouco não participaram do evento destrutivo ao estado, mas a conversa aconteceu e degustem a sem moderação.


oBIERcevando - Quando vocês se reuniram e resolveram montar a Nacional FT?

Dudu Toledo
- Aprimoramos a idéia durante o 2ºsemestre de 2006. Abrimos o galpão em março de 2007.


oBIERcevando - Alías o qual o significado do nome Nacional FT?

DT
- Nacional por valorizar um produto artesanal brasileiro. FT são iniciais dos nossos sobrenomes: Fabiani e Toledo.


oBIERcevando - Em um mercado com tantas barreiras para a cerveja diferenciada e produções em menor quantidade, o que a Nacional FT veio mostrar?

DT - Procuramos criar receitas realmente diferentes, como a Van Eyck por exemplo, utilizando o levedo belga, ninguém faz uma cerveja assim aqui em São Paulo. Queremos começar a educar o paladar para cervejas diferentes, pois poucas pessoas conhecem.


oBIERcevando - O negócio de cervejas exclusivas para bares e restaurantes, veio do acaso ou fazia parte do plano de negócio?

DT
- Já fazia parte, foi o jeito que achamos de começar a fazer em pequena escala e divulgar nossas receitas para amigos e conhecidos.


oBIERcevando - Podemos dizer que é uma vantagem competitiva esta forma de negócio, cervejas exclusivas?

DT
- Creio que não, foi uma maneira de viabilizar o início de um negócio de produção em pequena escala.


oBIERcevando - As receitas (estilos) das cervejas, é a Nacional FT que oferece ou o estabelecimento que quer comercializar a cerveja já vem com a proposta?

DT
- É a Nacional que oferece e o estabelecimento ajuda a afinar a receita.


oBIERcevando - Qual estilo de cerveja a Nacional FT irá fazer ainda? Teremos alguma novidade?

DT
- Como somos muito pequenos, queremos testar inúmeras receitas de estilos diferentes.
Por enquanto, a idéia é comercializar apenas essas 3 receitas já existentes e testando novas internamente.


oBIERcevando - É previsto o aumento na capacidade de produção e um produto engarrafado? A longo ou médio prazo?

DT
- Engarrafado a longo prazo. Aumento de produção vai depender do rumo que vamos tomar.


oBIERcevando - O que é necessário em sua opinião para baixar o preço das cervejas produzidas em pequenas escalas?

DT
- O Problema é o custo elevado da matéria prima importada, e talvez se os bares diminuirem a margem.


oBIERcevando - Quais cervejas e locais comercializam os produtos da Nacional FT hoje?

DT
: São três estilos em quatro locais:
Drakes Ale – Drakes Bar e Pub;
Van Eyck Belgian Strong Ale – Bar Santa Madalena;
Lolita Pilsen – Pizzaria Ivitelloni e Clube Berlin.


oBIERcevando - Qual seria seu pedido se ao esfregar uma garrafa de cerveja e um "Gênio Cervejeiro" lhe concedesse um?

DT - Menos burocracia para conseguir os registros, leis e impostos diferenciados para incentivar e facilitar a vida do pequeno produtor.


oBIERcevando - E esta viagem a Santa Catarina, trouxe mais conhecimento cervejeiro?
DT - Muito. Principalmente nos modelos de equipamentos, tipo de piso, disposição, estrutura, metodologia de produção.


oBIERcevando - A pergunta de praxe, qual cerveja que realmente goste, além da Nacional FT, gostaria de estar tomando agora?

DT -
Putz, ontem tomei uma Delirium Christmas, uma edição especial de natal que uma amiga trouxe da Bélgica com 10% de alcool, maravilhosa!!!!!!

Mais informações: Microcervejaria Nacional FT