sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cerveja para os Pais


O dia dos pais no Brasil é comemorado no segundo domingo de agosto. Isso faz com que haja uma variação na data do mês.

A história mais conhecida em comemoração ao dia dos pais é a de William Jackson Smart, um ex-combatente da guerra civil que perdeu sua esposa quando os seis filhos eram ainda bem pequenos, criando-os sozinho. Sua filha Sonora Smart resolveu homenageá-lo, no ano de 1909, em razão da admiração que sentia, por este ter dedicado sua vida aos filhos e ter conseguido criá-los muito bem. A data escolhida foi a de nascimento de Willian, dezenove de junho.

Aos poucos a data passou a ser difundida a outras famílias da cidade onde moravam, no estado de Washington, sendo espalhada por todo país, até que o presidente Richard Nixon tornou-a oficial.

Porém, o primeiro registro de homenagem a um pai surgiu na antiga Babilônia, há mais de quatro mil anos, onde um jovem modelou e esculpiu um cartão para seu pai, desejando sorte, saúde e muitos anos de vida.

E como da Babilônia vieram as primeiras leis sobre nosso líquido preferido, resolvemos brincar um pouco com a idéia de sugerir um estilo, ou uma cerveja, para presentear. Levando em consideração seu estilo de vida, sua personalidade. Seria como uma harmonização de cerveja com o perfil do pai.



TRANQUILO – Para aquela Pai mais tranqüilo e de bem com a vida, uma cerveja leve e complexa merece preencher o paladar dele. Porque não uma Kölsch? As cervejarias de Colônia acordaram em 6 de março de 1986 que para proteger a identidade da Kölsch na Alemanha, só em Colônia poderia ser produzida a Kölsch. A “Convenção Kölsch” foi assinada pelos Conselheiros de 24 cervejarias produtoras do estilo, com a benção do então Presidente da Câmara de Colônia, Norbert Burger.

De acordo com este documento, Kölsch só pode ser fabricada e “vendida” pelos fabricantes em Colonia, com exceção das cervejarias que já produziam o estilo há muitos anos, embora não tenham sido ou não são mais residentes em Colônia.

O estilo apresenta complexidade e sutileza ao mesmo tempo, seu aroma apresenta notas de pão, malte, lúpulo, leve frutado. No paladar, médio corpo, leve adocicado, boa presença de malte e geralmente possui uma leve sensação residual agradavelmente amarga. Começa com toques adocicados, para terminar com um agradável amargor, deixando marcas no paladar após degustá-la. Uma cerveja tranqüila assim como seu pai.

Exemplos comerciais: Eisenbahn Kölsch, Bamberg Kölsh, Gaffel Kölsch, Früh Kölsh



TRADICIONALISTA – Aquele Pai que sempre prefere manter a linha, manter o estilo e a tradição merece então tomar uma verdadeira Bohemian Pilsener. Josef Groll, cervejeiro Baváro, foi contratado para ir a Pilsen e produzir uma cerveja pelo novo método alemão, uma cerveja “Lager”, ou seja, cerveja de baixa fermentação. Quando Groll foi produzir a cerveja teve tudo a seu favor. Em torno de 1840, Groll chegou em Pilsen e já se iniciava a oferta de levedura lager na cidade. Ele também teve disponível um excelente lúpulo local, o Saaz, água que possuía ótima leveza e maltes de cevada mais claros, sem características de torrefação ou defumado.

O cervejeiro Groll adicionou porções generosas do lúpulo local, perfumando a cerveja e utilizou maltes mais claros. Em 5 de outubro de 1842, ele e os outros fabricantes de Pilsen reuniram-se para a abertura do barril desta nova cerveja.

Quando abriram o barril, viram uma cerveja diferente de qualquer outra que eles ou qualquer outra pessoa no mundo tinham visto. A cor era dourada, era leve e clara. Podia-se ver através dela no copo de cristal e um aroma inebriante de lúpulo. Uma cerveja surpreendentemente refrescante.

Este estilo que foi popularizado, marginalizado no Brasil e no mundo, tem ótimas representantes, mantendo preservada boa parte das características que Groll buscou como refrescância, perfume floral de lúpulo, bom caráter de malte e médio teor alcoólico. Então, Pai tradicionalista não mexe em time que está ganhando, pelo menos este reforço ela merece.

Exemplos comerciais: Pilsner Urquell, 1795, Budweiser Budvar ou Czechvar, Starobrno, Wäls Bohemian Pilsen, Falke Bier Diamantina e Bamberg Camila Camila.


MODERNINHO – Existem aquelas Pais que sempre estão antenadas, acompanham tudo de novo e sabem o que é bom. Para esta seleção de Pais, nada mais justo que presentear com cervejas inovadoras, que estão se reinventando. A "escola" Americana apresenta bem essas particularidades. Na realidade diversas cervejarias do mundo, inclusive no Brasil, estão se reinventando e fazendo cervejas com particularidades muito intensas. A Itália é outra ótima referência em inovação.

Eles gostam de explorar tudo o que os lúpulos tem a oferecer, a utilização de barris de diversas madeiras para agregar complexidade a cerveja. Utilizar variados condimentos, frutas, outros adjuntos para trazer mais sabor e mais aroma. Enfim, tem muita coisa nova acontecendo e com a cerveja não é diferente, por isso, acompanhe seu Pai nesta nova “onda”.

Exemplos Comerciais: Harviestoun Ola Dubh, Infinium, Baladin Wayan, Vivre da Falke Bier, Founders Breakfast Stout, BodeBrown HopWeiss, Wäls Saison de Caipira.


REVOLUCIONÁRIO – Se sua Pai quer mudar o mundo custe o que custar ele tem que ter uma cerveja a altura no dia dele. Existe hoje uma forte tendência mundial a exploração dos estilos. Sem seguir muito parâmetros previamente definidos. Por que não inovar ou então, porque não revolucionar.

Algumas cervejarias já têm essa tendência a anarquia consciente. Se podemos fazer mais, porque não fazer então? Assim algumas cervejarias se destacam, usando o convencional e o não convencional nas receitas de cerveja. Seja na postura de marketing do produto, dizendo em alto e bom som, que não vieram para ficar fazendo média. As cervejas geralmente são revolucionárias e inspiradoras, visto a alta qualidade delas. Então apresente a seu Pai mais estas militantes cervejeiras, acredito que ele também vai vir para este lado da força.

Exemplos comerciais: Bodebrown Cerveja do Amor, Dum Petroleum, Wensky Old Ale, 2 Cabeças Hi-5.


ESPORTISTA – A cerveja durante grande parte de sua existência foi considerada um alimento. Algumas pessoas ainda a consideram um alimento. Não faz muito tempo que começou a ser considerada uma bebida alcoólica. Apesar disso a cerveja é extremamente rica em minerais, proteínas, etc.

Para manter a linha do Pai esportista, temos no Brasil a Erdinger Sport, é a primeira cerveja isotônica para atletas e para todas as pessoas que buscam uma vida saudável. Livre de aditivos químicos, gordura ou colesterol, mantém o sabor original da cerveja de trigo e contém apenas 25 Kcal por 100ml. Ideal para ser consumida após o esporte, ela contém todas as vitaminas do Complexo B, além de minerais como Potássio, Fósforo, Magnésio, Sódio e importantes aminoácidos. 

Além das cervejas "sem álcool", qualquer cerveja com baixo teor alcoólico, bebida em pequenas porções, tem diversas ações benéficas ao nosso organismo. Aposte nas que possuem zero componentes químicos.

Exemplos Comerciais: Erdinger Sport - Teor alcoólico:0,39%.


ESTRESSADO – Hoje em dia, as horas passam e você não conseguiu resolver tudo o que precisava, o dinheiro entra e sai muito rápido da conta, realmente tem Pai que não agüenta e estressa muito.

Para este Pai os ensinamentos dos monges trapistas são a melhor forma de passar um pouco de paz enquanto degusta sua cerveja. A vida dos Trapistas segue o príncipio fundamental do ora et labora, vivendo em grande austeridade e silêncio, orientada para a experiência do Deus vivo. Esta "atividade" é chamada de contemplação, isto é, a busca contínua da união com Deus. Uma das únicas formas de ter um pouco mais de paz, por isso um sofá e uma bela cerveja trapista farão com que seu Pai estressadinho viva pelo menos o dia dele em grande paz e silêncio.

Exemplos comerciais: Chimay,Orval, Achel, Westmalle, Rochefort e La Trappe, todas com variadas versões.

UM ÓTIMO DIAS DOS PAIS A TODOS, QUE FAZEM DA VIDA EM FAMÍLIA UM MOMENTO MÁGICO. PARABÉNS AOS AMIGOS CERVEJEIROS QUE PELA PRIMEIRA VEZ IRÃO COMEMORAR A DATA, UM BRINDE.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

SE LIGA....


Conforme informado pelo nobre amigo André Junqueira de Curitiba, da Morada, algumas pequenas correções no texto, com dados mais precisos sobre o assunto.

No Brasil, para usar a palavra cerveja no rótulo tem que ter ao menos 20% de malte. Neste caso a denominação da bebida será " Cerveja de XXX", onde o "XXX" é o outro ingrediente predominante nos 80% restante. A exigência de 55% é para denominar apenas como "Cerveja" no rótulo, o restante pode ser outros cereais, maltados ou não.  
Os famosos cereais não maltados ou cereais cervejeiros indicados nos rótulos das principais marcas do país são simplesmente quirela de arroz ou gritz de milho. Porém as marcas populares não destacam estes ingredientes nos rótulos, será que causaria desconforto em seus clientes? Aliás, é de conhecimento que estas marcas populares já utilizam menos de 55% de malte na receita, além de descumprir a lei, enganam o consumidor que ainda venera e defende a marca preferida.

  

Na ultima reunião realizada em Brasília, cerca de um mês e meio atrás, com o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) órgão que rege o setor, , as micro cervejarias solicitaram que fosse destacado no rótulo a utilização do Corante Caramelo, pois as grandes cervejarias vem utilizando até mesmo na "Pilsen" deles o corante para acerto de cor, você sabia disso? 

Eles alegam que não tem como colocar no rótulo, pois não usam sempre, hã hã sei, e sim esporadicamente para "correção de cor". Portanto seria inviável mudar o rótulo a cada lote, caso tenham usado ou não o corante. Uma informação que não chega ao consumidor e o mesmo deveria saber, para fazer melhor suas escolhas. 

E uma ultima informação desta reunião é que a duas grandes cervejarias sugeriram o aumento do limite mínimo de malte de cevada na composição da cerveja, acreditem se puderem, mas a dona do mercado sugeriu que ficasse do jeito que está.
Recentemente um estudo realizado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da USP de Piracicaba, e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), comprovou a prática desleal de utilizar mais cereais não maltados do que o permitido.


O principal motivo da utilização destes ingredientes é a retirada, extração, exclusão, subtração das principais características da cerveja: o corpo, a cor, o sabor e o aroma. Visto que, com menos malte e também menos lúpulo e mais cereais não maltados, a cerveja fica mais “leve”, “suave” ou então “abrasileirada”. Este termo abrasileirar, além do uso indevido, desmerece o paladar do consumidor brasileiro, porém é fato que a grande maioria não gosta mais de sentir sabor na cerveja e o principal problema para muitos é o amargor.


Geralmente são as pessoas mais velhas que apresentam este repudio ao amargor, daí pergunto: Você tomava cerveja no final dos anos 70 e começo dos anos 80? Se a resposta é afirmativa, conto uma historinha verídica a ele: Sabia que naquela época a marca Y, que o senhor tanto gosta, tinha 28 IBU’s (Unidade que mede o amargor da bebida) e que hoje esta mesma marca tem no máximo 8 IBU’s? O que aconteceu com seu paladar? Ele se  atrofiou? Vou além e pergunto se gosta de comida de hospital, a resposta é a mesma com todos, ninguém gosta. Então por que o problema está com a cerveja, se ela tem sabor intenso, aroma intenso, ela é ruim, é muito forte e não dá para beber. Solicito uma gentileza, reveja seus conceitos.


O mote disso tudo é a constante comparação dos consumidores, pontos de venda e até mesmo distribuidores,  com cervejas de baixíssima personalidade sensorial (água colorida com gás) com cerveja artesanal. A comparação e preocupação é sempre a mesma, a diferença de preço. Poxa, muito simples, por que o carro Camaro, não tem o mesmo preço do Gol, ninguém vai lá reclamar com a Chevrolet que está caro, aliás, ninguém faz esta comparação óbvia. E com a cerveja, não poderia ser assim também, sem comparações absurdas? 


Não dá para comparar, grandes e médias indústrias cervejeiras têm produções em volumes grandes, conseguindo diluir o custo facilmente, uma série de incentivos fiscais nos estados, um grande poder de barganha na hora de comprar insumos, pagam percentuais de impostos menores que as micro cervejarias, utilizam cereais não maltados, quantidades mínimas de lúpulo.  Já micro cervejarias tem produção em volumes pequenos, consequentemente a diluição do custo se complica. Praticamente nenhuma negociação na hora de compra de insumos, altos impostos, a maioria utiliza somente malte e quantidades generosas de lúpulo, o ingrediente mais caro da cerveja. Resumindo, não tem como comparar.


Então, as micro cervejarias devem explicar ao seu consumidor estes fatores, elucidando seu cliente sobre a diferença, sobre o seu trabalho. Também não se basear em políticas comerciais de grandes cervejarias, esta “prostituição”da nossa pequena fatia do mercado é ineficaz e prejudica a todos.  Convoco a todos a comparar e separar o Joio do Trigo, antes que a erva daninha tome conta da plantação. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Nem tudo que brilha é Ouro



Notável o crescimento do mercado de cervejas “especiais”, “gourmets” ou “artesanais”. Isso se deve ao trabalho de muitos que amam fazer/trabalhar com cerveja. Vide o número expressivo de  cervejarias surgindo no país, segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) que fiscaliza o setor, no ano passado surgiram 31 novas cervejarias no país, um número expressivo e que tende a aumentar com o passar do tempo.


Interessante notar que junto as novas cervejarias, estilos pouco conhecidos pelos consumidores brasileiros começam a se tornar populares, alguns caindo facilmente no gosto do povo.
Um estilo de cerveja tem como base quatro princípios básicos: teor alcoólico, cor, amargor e características sensoriais (aroma e sabor).  Além de todo conteúdo histórico que determinado estilo carrega ao longo de séculos de tradição. Todos estes critérios estão baseados em duas instituições americanas, o BJCP (Beer Judge Certification Program) e a Brewers Association que publicam e cuidam das atualizações dos guias de estilos.


Com isso, não poderia desenvolver uma cerveja ale escura, com 7% de álcool e dizer que é uma Pilsen, longe disso, uma Pilsen, seja Bohemian ou German, tem que ser dourada, ter de 4% até 5,5% de álcool, etc. Por isso existem regras para classificação de estilos, para que não tenha confusão na hora de produzir uma nova cerveja e orientar o consumidor sobre o que ele está comprando. Estes guias também servem de base para competições cervejeiras.


Na atual cena cervejeira brasileira, temos diversas cervejarias fazendo a lição de casa bem feita, seguindo a tradicional escola alemã, ou então fazendo ótimas cervejas belgas e aquelas que utilizam como referência a antiga escola inglesa. Além destas três, temos cervejarias inovadoras seguindo a tendência americana em produção de cerveja, uma nova escola que ainda irá escrever muitas páginas na história da cerveja mundial.
Entretanto nem tudo que brilha é ouro, percebe-se algumas cervejarias que “ainda não se encontraram” afirmando que estão fazendo um determinado estilo, que ele é daquele jeito e pronto! Sou da opinião que realmente não deve haver limitação na criação, mas desde que esta inovação seja benéfica e que agregue ainda mais personalidade ao estilo. 


Este pensamento de dono da razão é prejudicial, pois educa de maneira errada o consumidor, querendo dizer que 2+2=5. A tendência do momento é fazer estilos de cervejas com forte personalidade de lúpulo, com cada vez menos lúpulo. E dizer que a cerveja não é americana é inglesa, se referindo as duas escolas cervejeiras. Afirmam que os americanos são apaixonados por lúpulo, e isso é verdade, fazem cervejas extremamente lupuladas, outra verdade. E que os ingleses, inventores de muitos estilos com forte personalidade de lúpulo, fazem cervejas com pouco lúpulo, com pouco amargor, uma mentira sem vergonha. Claro que uma IPA Americana é diferente de uma IPA Inglesa e que ambas são muito diferentes de algumas IPA’s Brasileiras, que ficam no limbo e não sabem para onde irão. Isso acontece com Pale Ales também.


Não dá para deixar isso passar em branco, sem avisar a todos, antes que se torne moda falar “a minha cerveja não é americana, é inglesa, por isso é suave e tem mais malte do que lúpulo no sabor”, isto falando de uma IPA. Um bom exemplo de cerveja inglesa disponível no mercado é a tradicional Adnams que o MR. BEER está importando exclusivamente para seus pontos de venda. A Adnams Ghostship é uma Pale Ale que apresenta lúpulo do começo ao fim, é bem amarga e um final seco que pede outro gole. Então, por favor, nada de querer me dizer que sua cerveja é inglesa, pois vou contestar, e não me venha então dizer que é uma versão “abrasileirada” do estilo, para que o consumidor não se assuste. Se está com medo, para que veio? Ou então, se não aguenta vai produzir leite.


Existe inúmeras maneiras de conseguir informações sobre estilos, visite o país de referência, compre livros, pesquise na internet, consulte um cervejeiro caseiro, contrate um bom beer sommelier para trabalhar junto, tenha um pouco de cuidado com o que informa, pois todos queremos crescer, e juntos com o mesmo objetivo e conhecimento, será mais fácil.